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Nuzman e ex-diretor de Comitê Olímpíco são presos pela Polícia Federal

Suspeito de intermediar compra de votos de integrantes do Comitê Olímpíco Internacional, Carlos Arthur Nuzman foi preso em casa, no Leblon

Jacqueline Saraiva
postado em 05/10/2017 07:25

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O presidente do Comitê Olímpico do Brasil e do Comitê Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman foi preso temporariamente pela Polícia Federal nesta quinta-feira (5/10) em nova ação durante a investigação sobre compra de votos para a escolha do Rio de Janeiro pelo Comitê Olímpico Internacional como sede das Olimpíadas de 2016. A Operação Unfair Play - Segundo Tempo, desdobramento da Operação Lava-Jato no Rio, é realizada em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF). Além de Nuzman, o ex-diretor de marketing e comunicação da entidade, Leonardo Gryner, também foi alvo de mandado de prisão.

Presidente do comitê há 22 anos, Nuzman foi preso em casa, no Leblon. Ele é suspeito de participação direta na compra de votos de integrantes do Comitê Olímpíco Internacional (COI) para a eleição do Rio como sede da Olimpíada de 2016. Há um mês, o juiz federal Marcelo Bretas decretou o bloqueio de R$ 1 bilhão de Nuzman e dos empresários Arthur Soares e Eliane Cavalcante.

Ganha-ganha

O Ministério Público Federal (MPF) do Brasil e o Ministério Público Financeiro de Paris, da França, apuram a relação entre viagens dos dois dirigentes à África em 2009. De acordo com a investigação, o "grande esquema ganha-ganha" fez o empresário Arthur Soares direcionar propinas que seriam destinadas ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para Papa Massata Diack, filho do então presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês), Lamine Diack. Segundo o Ministério Público Federal, o objetivo era "garantir mais um voto na escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Olímpicos de 2016".

No total, são cumpridos dois mandados de prisão temporária e seis mandados de busca e apreensão, expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7; Vara Federal Criminal (RJ), na cidade do Rio de Janeiro, em bairros como Ipanema, Leblon, Laranjeiras e Centro. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

[SAIBAMAIS]O Ministério Público Federal (MPF) afirmou que Nuzman teve crescimento "exponencial" de seu patrimônio entre 2006 a 2016, de 457%. "Só em 2014, o patrimônio de Nuzman dobrou, com um acréscimo de R$ 4,2 milhões", afirmou a pasta em nota. Segundo a denúncia dos procuradores federais à Justiça ; obtidas com base na quebra do sigilo fiscal do presidente do COB ; os bens incluem ainda 16 barras de ouro, depositadas em um cofre na Suíça. Chamou a atenção o fato de que, do valor total, R$ 3.851.490,00 são decorrentes de ações de companhia sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal.

As declarações de Imposto de Renda de Nuzman não registram a sua remuneração recebida do COB ou do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016. "Por outro lado, Nuzman justifica a origem de seu patrimônio a partir do recebimento de valores de pessoas físicas e do exterior", afirmou o ministério. Contudo não há explicações sobre quem efetivamente lhe remunerou. Não há indicação de empresas ou de CPFs que permitiriam a real constatação da origem (e legitimidade) dos recursos que formam seu patrimônio", afirma o MPF.

A situação do presidente do comitê ficou mais complicada depois que ele retificou a declaração do Imposto de Renda poucos dias após a primeira fase da Operação Unfair Play, quando Nuzman foi alvo de buscas e intimado a depor. "Nuzman mantinha recursos ocultos no exterior e somente os declarou à Receita Federal por meio de retificação da DIRPF na data de 20/09/2017", afirmou a denúncia. Na retificação do importo, ele incluiu valores em dinheiro vivo, bem como as barras de ouro de 1kg cada.

Chave de cofre

A força-tarefa da Lava-Jato no Rio afirma que um dos objetos apreendidos durante a operação foi uma chave, guardada junto a cartões de visita de agentes que trabalham com "serviço de locação", que os procuradores apuram se corresponde a de um cofre na Suíça, que pertenceria ao presidente do COB. "Sabendo dessa apreensão, Nuzman tentou adiantar-se para evitar que as barras de ouro possivelmente depositadas no aludido cofre fossem descobertas pelas investigações", disse o MPF.

COI estuda sanções

Em um comunicado, emitido em Lausanne, o Comitê Olímpico Internacional anunciou que considera medidas contra Carlos Arthur Nuzman e que oferece toda cooperação com as investigações. A instituição também indicou que sua Comissão de Ética já iniciou investigações sobre o brasileiro. Entre as possíveis sanções está sob consideração há a possibilidade de suspender o dirigente, o que minaria a sua capacidade de também de manter o seu cargo como presidente do COB. "O chefe de Ética e de Compliance do COI pediu às autoridades brasileiras por todas as informações para proceder com as investigações dentro do COI."

Rei Arthur

Em 5 de setembro, Nuzman já havia sido alvo da primeira etapa da Operação Unfair Play. A força-tarefa da Lava-Jato rompeu as fronteiras do país para rastrear o caminho da propina e evidenciou o esquema de compra de votos na Rio 2016. Policiais fizeram buscas na casa de Nuzman, no Leblon, e ele prestou depoimento na sede da PF. Outro alvo da Lava-Jato à época foi o empresário Arthur Cesar de Menezes Soares Filho, o "rei Arthur". O nome dele foi incluído na lista de foragidos da Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, e ele ainda não foi encontrado.

Panama Papers

Poderoso consultor de marketing para a federação de atletismo, Papa Massata Diack transferiu US$ 299.300 de sua empresa para uma estrutura (Yemi Limited). A reportagem publicada no Le Monde vinculou o pagamento, graças aos dados do Panama Papers, ao ex-campeão atlético namibiano Frankie Fredericks. Este era apontado como um controlador do voto para o Comitê Olímpico Interncional, do qual se tornou membro em 2012. Frankie Fredericks justificou a transferência de dinheiro através de atividades promocionais para o atletismo Ele foi obrigado a renunciar ao cargo de presidente da Comissão de Avaliação dos Jogos Olímpicos de 2024, antes de ser suspenso da IAAF.

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