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Politica

Partidos políticos trocam de nome e especialistas explicam o que NÃO muda

Para cientistas políticos ouvidos pelo Correio, alterações estão relacionadas a uma tentativa das siglas de se desvincular de episódios passados e até mesmo da política


Nos últimos dez anos, o Brasil tem observado um movimento de mudanças estruturais nos nomes de alguns partidos políticos. Eles não apenas mudaram suas nomenclaturas. Trocaram as siglas por palavras e se desvincularam da letra "P", que abreviava a palavra partido. Desde 2007, dois deles oficializaram a mudança no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mais dois estão com o processo em tramitação e outros dois já anunciaram a intenção de mudar, apesar de ainda não ter formalizado o desejo. Há ainda outros três recém-criados que foram batizados já seguindo essa onda.
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Apesar de todos os partidos negarem, para especialistas, essa mudança está, sim, relacionada a um desejo de esconder ou se desvincular do passado. "Parece uma estratégia de marketing, mudando um nome desgastado para algo que o eleitor não associe. É curioso que, além de excluírem o ;P;, eles adotaram nomes que passam uma ideia de movimento, que é um tipo de representação política que não tem acesso à eleição", pontua o professor Glauco Peres da Silva, do departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP). Como exemplo desses movimentos sem acesso às eleições, ele cita o Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou força nas manifestações pró-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, iniciadas em 2015.

Para o professor Creomar de Souza, da Universidade Católica de Brasília (UCB), a ideia de se desvincular do passado parece ainda mais plausível se levarmos em consideração o momento histórico do país, em que a maior parte da população demonstra imensa insatisfação com a política. Prova disso foram as eleições suplementares no Amazonas. Depois de governador e vice, eleitos em 2014, serem cassados por compra de votos, os amazonenses precisaram voltar às urnas no fim do mês passado. No segundo turno, as abstenções e os votos brancos e nulos somaram 49,6%. Ou seja, quase metade dos eleitores não quis escolher um dos candidatos.

"A gente tem dois fenômenos claros derivados dos últimos tempos, de 2014 para cá. O primeiro é o enorme desgaste da representação política. Os mandatários têm sido muito cobrados pela incapacidade de entregar o que prometem. O segundo é a perspectiva de que a política se tornou uma atividade para espíritos pouco nobres. O cidadão comum passou a achar que a política é lugar de criminoso", avalia o docente da UCB.
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Um ponto importante ressaltado pelos dois especialistas é que as mudanças de nome não representam ; como deveriam ; uma mudança de postura ou de ideologia dos partidos. "As ideologias continuam tão ruins quanto antes", dispara Silva. "A classe política poderia fazer duas coisas: um mea culpa e criar novos processos para tornar a política benquista. Mas parece que eles estão buscando um atalho. Estão buscando construir maquiagens para disfarçar a incapacidade de dialogar com a população", afirma Souza.

Se essa estratégia vai funcionar? As urnas em 2018 é que vão dizer. "O efeito concreto ainda é difícil de ser avaliado. Mas se eu fosse político não acharia essa uma ideia absurda, porque você se livra de tudo o que é ruim. Pode não funcionar, mas a gente só vai descobrir depois", arremata o professor da USP. Caberá, então, a você, eleitor saber separar o joio do trigo nas próximas eleições.

O que dizem os partidos?

Clique nas imagens para ver como a sigla se chamava antes da mudança
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