Na oposição ao governo, Orlando Silva (PCdoB-SP) analisou com cautela a posição do ex-procurador. ;As atitudes que ele (Janot) tomou foram institucionais, e não pessoais;, argumentou o deputado. Sobre a ação do investigador, Orlando manteve o tom diplomático. ;Ele cumpriu a missão e será estranha qualquer decisão tomada contra ele nesse caso.; Na entrevista, Janot disse acreditar que a CPMI instalada no Congresso para investigar a JBS não vai apurar a conduta da empresa, mas os investigadores ; no caso o próprio ex-procurador e sua equipe no Ministério Público. Para o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), tratou-se de uma entrevista ;franca, direta, cuja atitude (de Janot) precisa ser respeitada;.
A opinião expressa por Janot é compartilhada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). ;A entrevista do ex-procurador-geral da República mostra que a proposta desta CPMI instalada no Congresso é retaliar o Ministério Público e acabar com a Lava-Jato;. Foi Randolfe Rodrigues, inclusive, o autor de um mandado de segurança enviado ontem à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, pedindo a suspensão dos trabalhos da CPMI, relatada por Carlos Marun (PMDB-MS), fiel aliado da base de Temer. O pedido aguarda decisão da ministra.
Enquanto a oposição comentava abertamente as opiniões de Janot, os governistas optaram por um silêncio estratégico. O deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), uma das lideranças do governo na Câmara ; que, antes da revelação da segunda denúncia contra Temer, chegou a afirmar que o Brasil passava por ;uma era de muito denuncismo; ; não quis comentar a entrevista. A outros interlocutores na Câmara, Mansur disse que seria hora de Janot sair dos holofotes. Marun também não foi encontrado para entrevista.
;Forma melancólica;
Em nota na noite de ontem, a defesa do empresário Joesley Batista, dono do grupo J, se disse ;perplexa; com o tom que considerou ;fora do adequado a alguém que ocupou cargo tão importante;. Assinada pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o texto acusa Janot de agir de forma desleal e injusta com seu cliente. ;Essa entrevista apenas demonstra e reforça a forma melancólica com que o ex-procurador-geral da República se despede do cargo máximo do Ministério Público;, afirma, ;ressaltando detalhes internos, expondo, de forma estranha e bastante ruim para a sociedade brasileira como o Ministério Público, está claramente dividido;.
A nota diz ainda que, ;infelizmente, é preocupante o grau de desestabilização do ex-procurador;. Ainda segundo a defesa de Joesley, ;cabe a nós, advogados e cidadãos, com muita tranquilidade, aguardar que o MP volte a ter a transparência, a dedicação e a seriedade que sempre foi a marca do grande Ministério Público do que foi, por exemplo, à época do ministro Sepúlveda Pertence.;
Defesa da ANPR
A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) criticou ontem ;os ataques claramente pessoais proferidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, na sessão desta quarta-feira, em relação ao ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.;