O grupo político do governador Geraldo Alckmin reagiu nesta segunda-feira (4/9), à entrevista do prefeito João Doria ao jornal O Estado de S. Paulo na qual ele defendeu o desempenho nas pesquisas de intenção de voto como critério na escolha do candidato do PSDB à Presidência em 2018 e em que não descartou disputar o cargo por outro partido.
"O PSDB não tem nenhuma previsão de estabelecer as pesquisas como critério de escolha de candidato. Em 2016 (na eleição municipal) a escolha do candidato à Prefeitura foi prévias", disse o deputado federal Silvio Torres (SP). Secretário-geral do PSDB, ele é alinhado com o governador.
Ainda segundo Torres, as regras já estão definidas. "Se tiver mais de um pré-candidato na convenção de dezembro, vai ter prévias dentro de dois ou três meses. Todo mundo no partido vai ter que seguir isso. Não há como mudar a regra para atender a conveniência de cada um", afirmou.
O entorno do governador avalia que Doria cometeu um "erro político que prejudica os dois" tucanos e que o prefeito paulistano tem sido "muito afoito" em suas declarações.
A interlocutores, Alckmin tem dito que não pretende mudar sua estratégia por causa da "pressa de João Doria". O governador, segundo apurou a reportagem, não vai atacar o "afilhado" político, mas também não aceitará calado os atropelos públicos do prefeito.
Durante evento que participou nesta segunda no Museu do Futebol, em São Paulo, Alckmin usou a própria história para comentar com seus secretários a importância "de ser prefeito". Disse que estar em contato direto com a população é a experiência mais gratificante que um político pode ter, em uma referência indireta a Doria. Questionado se a capital não é um cemitério de políticos, como o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) dizia, Alckmin afirmou que governar São Paulo é uma oportunidade única, valiosa e lamentou que não teve essa chance na capital.
"Doria não quer disputar prévias porque sabe que perde para o Geraldo Alckmin. Ficou claro que, se ele não for candidato pelo PSDB, será por outro partido", afirmou o ex-governador Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB.
Interlocutores de Doria, por sua vez, defendem o uso de pesquisas como parâmetro e questionam a organização interna do PSDB para organizar um processo nacional de primárias. A sigla, que nunca realizou uma disputa interna dessa magnitude, não tem um rito regulamentado e nem sequer sabe exatamente quem são os filiados.
"O novo"
Em rápida entrevista depois de um evento em um hotel em São Paulo, Alckmin reafirmou a defesa das prévias. "O partido, tendo mais de um candidato, o bom caminho é abrir a escuta", afirmou.
Durante o evento, Alckmin conceituou o que considera ser o "novo" na política. "Primeiro, é falar a verdade. Olhar nos olhos, e as pessoas poderem acreditar. Segundo, é defender o interesse coletivo, que é órfão. As corporações tomaram conta do lado estatal e do privado. Os dois lados perdem."
A fala foi interpretada por tucanos como um recado a Doria, que, além de se vender como o "novo", é ferrenho defensor da iniciativa privada.
No intervalo, os dois posaram sorridentes para fotos e foram para uma sala reservada onde, segundo o governador, tomaram um café.
Doria disse que não tem intenção de sair do PSDB e reafirmou que tem propostas de quatro partidos. Perguntado se abriria mão da disputa presidencial caso o PSDB escolha Alckmin, respondeu: "Veremos, no momento sou prefeito da cidade de São Paulo".
O prefeito destacou que a defesa das prévias é uma posição pessoal de Alckmin, não uma decisão do PSDB, e deixou claro que as propostas que recebeu de outros partidos são para disputar a presidência em 2018. "Não me convidariam para integrar uma outra legenda se não fosse neste sentido."