Jornal Correio Braziliense

Politica

Propaganda transmitida na TV deixa cisão do PSDB cada vez mais aparente

A propaganda política transmitida na noite de quinta-feira criticou o governo e citou novamente o impeachment de Dilma Rousseff. PMDB pede repreensões



O PSDB vai demorar a fechar a cicatriz aberta pela propaganda partidária veiculada na noite de quinta-feira. A divisão entre o grupo liderado pelo presidente do partido, senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE), e os integrantes da ala que defendem a permanência no governo acentuou-se ontem, um dia após a veiculação da peça política. O presidente Michel Temer recebeu os ministros tucanos Aloysio Nunes Ferreira e Antonio Imbassahy para um almoço no Planalto. Em Fortaleza, Tasso, durante evento ao lado do prefeito de São Paulo, João Doria, deixou clara sua posição. ;Não me arrependo de nada e assumo total responsabilidade pelo programa. Enquanto eu for presidente do PSDB, a orientação será a minha;, resumiu o senador tucano.

A crise, portanto, está aberta. ;Eu temo que esse processo leve a uma cisão interna ainda maior. Qualquer posição que prevaleça, ao término desse episódio, vai provocar insatisfação interna no outro grupo, o que poderá levar, até, a uma debandada da legenda;, lamentou um cabeça preta tucano. ;Isso só nos afasta dos planos de voltar ao Planalto no ano que vem;, prosseguiu ele. Para um tucano alinhado ao Planalto, é cedo para avaliar quem ganha mais com a crise do PSDB: se a direita emergente, centrada no DEM, ou o PT, eterno rival dos tucanos nas corridas presidenciais.

Insatisfação


Temer não ficou nem um pouco satisfeito com a propaganda tucana. A peça publicitária critica o apoio ao governo, compra briga com senadores e deputados ao indicar que a adesão é fisiológica e retoma o debate em torno do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, assunto que o peemedebista queria ver sepultado. ;Eles (o grupo ligado ao senador Tasso) acreditam ter agido certo ao dizer que a legenda errou. Diga-me qual eleitor vai virar o voto por causa de uma autocrítica partidária?;, questionou um tucano aecista.

[SAIBAMAIS]Vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PB) discorda, afirmando que ;o fato de a propaganda ter virado assunto mostra que a linha adotada está correta;. E rebateu as críticas feitas ao centralismo de Tasso na escolha do discurso político e das críticas ao governo. ;A expressão ;cooptação; foi uma sugestão do próprio FHC. Ia ser coalizão e ele sugeriu cooptação;, afirmou o senador. Para o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), o partido poderia ter optado por outro caminho. ;Ao falar do impeachment, por exemplo, poderíamos ter destacado que, sem o empenho das lideranças do PSDB, não teríamos concluído o ciclo do PT no poder;, lembrou Bauer.

Distanciamento


Um parlamentar tucano criticou o fato de o petista Lindberg Farias (RJ) ter virado um garoto-propaganda, aparecendo em diversas imagens ao longo da peça publicitária. ;Imagina o cenário. Agora, toda vez que um de nós for à tribuna fazer qualquer crítica, os petistas vão indagar: não foram vocês que disseram que o PSDB errou? Vocês não assumiram que esse governo é fisiológico?;, disse o político.

A divisão reforça, em grau máximo, o distanciamento entre Tasso e Aécio Neves. E o Planalto estimula essa cizânia. Temer e o núcleo palaciano adoraram a escolha do mineiro Paulo Abi-Ackel para relatar a denúncia por corrupção passiva contra o presidente. O governo também indicou outro aecista, Marcus Pestana, para relatar a mudança do teto de deficit de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões.


Deslealdade

A aliados próximos, Aécio tem reclamado sobre o que considera deslealdade de Tasso. Quando foi alvejado pela Lava-Jato, Aécio abriu mão da presidência do partido e deixou Tasso como presidente interino. Após a crise abrandar, tentou voltar ao comando partidário, mas alega que o senador cearense fechou-lhe as portas. Mas a tendência é que Tasso permaneça no posto até dezembro, quando uma convenção escolherá o novo presidente do PSDB.