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Apesar da crise, 'candidatos' à presidência fazem caravanas pelo país

No ranking de milhagens, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), despontam na frente

A crise política que domina a agenda em Brasília e as incertezas da reforma política em discussão e suas consequências para a disputa do ano que vem não impedem os "presidenciáveis" de dar a largada em suas (pré) campanhas no segundo semestre. Como costuma acontecer em anos que antecedem eleições gerais, o calendário eleitoral se impôs no mês de agosto.

No ranking de milhagens, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), despontam na frente.

Doria, que tenta se firmar como antagonista do PT, vai passar por 9 cidades em 8 Estados em quatro semanas. Quando questionado sobre a razão dos deslocamentos, o prefeito costuma dizer que São Paulo "é uma cidade brasileira" e que todos os custos são pagos por ele, que viaja em seu próprio avião.

Só entre junho e agosto, o tucano recebeu 37 convites para eventos fora do Estado. Disse ter aceitado os que mais se conectavam com sua estratégia. As viagens selecionadas para agosto indicam uma tentativa de ganhar terreno no Nordeste, reduto histórico petista.

No dia 18, por exemplo, Doria será ciceroneado no Recife pelos ministros Bruno Araújo (PSDB), das Cidades, e Mendonça Filho (DEM), da Educação. No dia 31, o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB) receberá o prefeito paulista em Campina Grande, na Paraíba.

Ao mesmo tempo em que procura ampliar a influência no PSDB, o prefeito consolida pontes com o aliado DEM, que, como o PMDB, já deixou as "portas abertas" para recebê-lo.

Aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB), padrinho político de Doria, dizem que ficaram "perplexos" com a movimentação do prefeito em campo aberto. Alckmin reagiu e também colocou o pé na estrada.

O governador foi a Brasília semana passada pressionar a Executiva do PSDB a antecipar para dezembro a escolha do candidato tucano ao Planalto. Circulou pelo Congresso e conversou com as bancadas da sigla.

Avesso a viagens, o governador, que costuma "jogar parado", visitou Porto Alegre na sexta-feira e Florianópolis ontem. Até o fim do mês ele pretende ir a Fortaleza, onde será recebido pelo senador Tasso Jereissati (CE). Presidente interino do PSDB, Tasso apoia Alckmin na disputa interna com Doria. Para se contrapor ao discurso antipetista do prefeito, Alckmin tem pregado a "conciliação".

Lula


Mesmo ameaçado de ser impedido de concorrer caso seja condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá (SP), Lula vai percorrer, em 18 dias, 25 cidades em 9 Estados com um discurso com críticas às reformas do governo Michel Temer, contra o que chama de "golpe" e em defesa de uma agenda que remonta às origens do PT.

Condenado na Lava Jato a 9 anos e 6 meses de prisão, o petista recorre à estratégia das caravanas, usada pela primeira vez em 1993 e repetida em 2001, tanto para fazer sua defesa quanto para amarrar alianças, capitalizar as realizações de seus governos e apresentar propostas para a campanha de 2018.

O terreno escolhido é o Nordeste, onde o petista nasceu e sempre obteve os maiores índices de votação. Até o fim do ano, pretende rodar as Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

No trajeto, que será feito quase integralmente de ônibus, Lula vai visitar cidades contempladas por programas de governos petistas, como o Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, ProUni, Luz Para Todos e Bolsa Família. O objetivo é lembrar o eleitorado dos "anos de ouro".

"Vamos defender o legado dos governos do PT, como Bolsa Família, ProUni, Luz para Todos, investimentos em educação, geração de emprego e renda que tiveram impactos importantíssimos no Nordeste. E também vamos pensar e discutir o futuro do País", disse o coordenador da caravana, Marcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT. Segundo ele, o objetivo das viagens não é eleitoral. "A caravana tem caráter programático, de diagnóstico e construção do futuro do Brasil."

Ciro Gomes é outro "presidenciável" que intensificou a agenda no segundo semestre. Tem feito palestras, reuniões com integrantes do PDT e dado entrevistas de Norte a Sul. Embora tenha dito ao jornal espanhol El País que gostaria de disputar a eleição de 2018 tendo o ex-prefeito petista Fernando Haddad como vice, sua assessoria diz que o objetivo das viagens não é eleitoral.

O PT, por sua vez, colocou Haddad para rodar o País. "Haddad está se movimentando para retomar o projeto de educação da segunda gestão de Lula. E ficar no banco de reserva. Se não der para jogar a partida principal, entra no segundo tempo", disse uma pessoa próxima.

Aliados consideram que "passou da hora" de a ex-ministra Marina Silva (Rede) ter uma "agenda presidenciável" e colocar a campanha na rua. Mesmo na Rede está claro que é impossível contar apenas com o recall da eleição de 2014 e que o tempo será decisivo para as pretensões do partido.

"Claro que a nossa candidata é a Marina Silva. A Rede está se estruturando nos Estados e municípios para entrar na disputa", disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Já o deputado Jair Bolsonaro (PSC-SP) "queimou a largada". No primeiro trimestre, esteve em Minas, Paraíba e São Paulo. Na ocasião, foi acusado de usar a cota parlamentar para custear viagens de caráter eleitoral, o que foi negado pela assessoria do parlamentar.

Agora, Bolsonaro parece concentrado em escolher com qual partido "vai se casar". Semana passada, frustrou o PEN (futuro Patriota) ao dizer que "ainda está noivo" do partido. Mesmo assim, a legenda está otimista. "A ideia é correr o País levando a mensagem de justiça e sustentabilidade", disse o presidente do PEN, Adilson Barroso, que já faz planos para o "futuro filiado".