Com uma máquina pública cara e ineficiente, o governo federal aumentou em 3,22% o estoque de dívidas em junho, alcançando a marca de R$ 3,35 trilhões em pendências financeiras. A emissão de títulos, que é uma das formas utilizadas para sustentar o orçamento público, foi o principal fator para a alta no mês, contribuindo em R$ 70,26 bilhões líquidos. Só no primeiro semestre de 2017, a dívida subiu para R$ 245 bilhões, sendo que, de maio para junho, cresceu quase a metade deste período: R$ 104 bilhões. Agora, a dívida acumula o pior volume desde o começo da série histórica, iniciada em dezembro de 2004, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional.
Para conseguir sustentar minimamente as contas públicas de 2017, o governo federal anunciou o aumento do Pis-Cofins na semana passada. O efeito da alta foi imediato, mesmo o Brasil tendo uma das maiores cargas tributárias do mundo. Em uma série de reportagens, o Correio mostrou como os três poderes esbanjam recursos públicos, indo na contramão do ajuste fiscal. Com um deficit previsto de R$ 139 bilhões e um Estado caro para manter, o setor público precisa emitir títulos, ou seja, se endividar.
Apesar disso, o Brasil ainda corre o risco de ser rebaixado novamente pelas agências de risco internacionais nos próximos meses, selando o papel de não pagador das dívidas. O patamar pode chegar ao de altíssimo risco, afugentando investidores no país. O custo médio do estoque da dívida cresceu de 11,23% ao ano, em maio, para 11,40% ao ano, em junho. Em 12 meses, a taxa está em 11,47% ao ano. Mesmo assim, o governo se empenha vorazmente pela alocar recursos para sustentar a máquina pública.
Alex Agostini, analista da Austin Rating, explica que, aliada ao baixo nível de endividamento, há uma queda na arrecadação das contas e uma rigidez de mais de 90% nas despesas obrigatórias do Estado. Segundo ele, este e outros fatores ilustram as dificuldades do Brasil fazer financiamento. ;O país também vive problemas com a crise política. Isso interfere de forma direta no financiamento da dívida. O governo acaba tendo que pagar juros maiores, porque há um risco interno por não conseguir fazer a reforma da Previdência e ter um deficit bastante elevado;, disse o especialista.
O Relatório Mensal da Dívida Pública, divulgado pelo Tesouro Nacional, mostrou que as dívidas internas chegaram a R$ 3,23 trilhões e, as externas, a R$ 123,9 bilhões. O estoque subiu 3,31% e 0,91%, respectivamente. A expectativa é que as pendências financeiras cheguem ao patamar de R$ 3,65 trilhões no final de 2017. Flávio Klein, economista da Tendências, disse que o endividamento deixa o quadro fiscal ;recheado; de riscos, potencializados com a crise política e paralisação da reforma da Previdência. ;Não há problema o país se endividar, mas, sim, fazer isso constantemente com deficits contínuos no orçamento. O problema é a trajetória desta dívida;, declarou.
Expansão
Além da emissão de títulos, as despesas com os juros da dívida somaram R$ 34,36 bilhões em junho, completando o resultado do mês de junho. Waldemir Quadros, professor de economia da PUC-SP, disse que o estoque cresce por ele mesmo, com os juros e amortização. Segundo ele, o governo ;contorna; as pendências, em vez de pagá-las, resultando na piora do deficit.
;A dívida está crescendo e a previsão é de que continue aumentando. Se a relação dívida/PIB aumentar muito, pode dar uma trajetória explosiva, com fuga de capital, juros altos e menor grau de investimento das agências. Mas desde que a equipe econômica entrou, o mercado está mais amistoso e não prevê o extremo acontecer;, declarou o professor.
Em 2016, houve um crescimento de 11,42% da dívida pública, fechando o ano em R$ 3,11 trilhões. Foi a primeira vez que o estoque passou de R$ 3 trilhões. Em maio, o valor das pendências era de R$ 3,25 trilhões. O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Leandro Secunho, destacou que o mês de junho trouxe a normalidade e a retomada do calendário anual de leilões. ;Maio foi um mês de grande volatilidade, onde o Tesouro fez algumas atuações extraordinárias com leilões de compra e venda. E a partir do final do mês e, principalmente, no início de junho o Tesouro retomou o calendário anual e os volumes ofertados para o mês;, destaca. O percentual de vencimentos da dívida nos próximos 12 meses diminuiu de 15,16% em maio para 14,96% em junho, o menor da série histórica.