Com a atual descrença da sociedade na classe política, o acordo entre as siglas definiu que a reforma será enxuta e com o mínimo de polêmicas, já que a aprovação tem de ser antes de outubro deste ano. O foco será nos três pontos que têm amplo apoio: a criação do fundo, o fim das coligações partidárias e a cláusula de barreira, com a possibilidade de os pequenos partidos criarem federações (leia quadro). Diante da proibição de empresas contribuírem com campanhas políticas, parlamentares precisam o quanto antes definir como será feita a arrecadação do pleito do ano que vem. A ideia é que as siglas administrem o fundo, a metade do valor seja para campanhas do Executivo, a outra metade para o Legislativo e ele seja dividido proporcionalmente pela representatividade: ou seja, partidos maiores, com uma fatia mais generosa.
[SAIBAMAIS]Na opinião do diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Calmon, por causa da falta de credibilidade e legitimidade em geral do sistema político, a reforma como está sendo feita está mais para a ;raposa fazendo o planejamento estratégico do galinheiro;. ;Faz todo o sentido PT e PMDB estarem unidos nisso. É questão de sobrevivência. A reforma fortalece as elites partidárias e reduz as chances de os pequenos se manterem competitivos;, comenta. O professor lembra o recente caso da França, que depois de um longo processo de crise no sistema político, elegeu o jovem Emmanuel Macron para presidente, um candidato independente, que apresentou uma nova plataforma.
;Essa chance de surgimento de novos nomes, novas frentes, é fundamental para que o sistema político possa se recuperar de uma crise tão profunda e a reforma proposta limita a chance de renovação;, acredita Calmon. O professor destaca também que as revelações de corrupção expuseram a fragilidade do sistema eleitoral brasileiro. ;As eleições carecem de transparência. Se verificou uma lista enorme de irregularidades em políticos que tiveram contas aprovadas. Quem vai fiscalizar a aplicação desses recursos? Com que estrutura? O país não pode aspirar ter uma economia de primeiro mundo e um sistema político de terceiro mundo. Uma reforma política tem de ser pensada de maneira mais ampla;, defende.
Já o professor do departamento de ciência política da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcus Ianoni comenta que já passou da hora de o país fazer uma reforma política substancial e compara o problema ao futebol: ;todo mundo é favor de a Seleção Brasileira ser campeã mundial, mas sempre há divergências em relação aos jogadores escalados;. Para Ianoni, é importante que partidos de tradição, como o PT e o PMDB, se unam para tocar a agenda. ;É mesquinho da nossa parte ver os partidos grandes só de maneira negativa. São legendas com tradição, liderança e poder de mobilização para obtenção do quórum necessário;, diz.
Vice-presidente nacional do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP) comenta que o fundo não une só o PT e o PMDB, mas todos as legendas porque seria uma forma de melhorar o sistema político. ;O fundo é criado exatamente para não existir mais o domínio do poder econômico sobre a política. Isso vai dar liberdade para a classe.; Ianoni concorda que a mudança diminuiria a influência do mercado nas decisões políticas, mas ele precisa ser bem explicado para a população, que, possivelmente, não entenderá o motivo de o dinheiro público estar sendo investido em campanha eleitoral. ;É importante entender que o investimento na democracia é necessário. O partido político é necessário. Se o fundo for encarado como ;mais dinheiro para os políticos roubarem;, não vai dar certo. É justamente porque medidas como essa nunca foram feitas que chegamos ao ponto em que estamos;, acredita.
O que é consenso