A bancada do PSDB na Câmara dos Deputados vai liberar o voto dos 46 parlamentares da legenda na análise em plenário da admissibilidade da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer pelo crime de corrupção passiva
A avaliação do líder do partido, deputado Ricardo Tripoli (SP), é que a maioria se posicionará contra o governo. A decisão será oficializada após a votação da admissibilidade na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara.
"O PSDB está dividido. Por isso, não há como fechar questão. Eu tenho convicção do meu voto pela admissibilidade da denúncia contra o presidente. Ninguém vai mudar minha convicção", afirmou o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB).
Segundo o placar do jornal O Estado de S. Paulo, o PSDB contabiliza 15 votos a favor da admissibilidade da denúncia, 3 contra e 3 indecisos - 28 parlamentares não responderam. O cenário para Temer também é desfavorável na Comissão de Constituição de Justiça. Integrante do PSDB na comissão, o deputado Jutahy Junior (BA) declarou ontem voto pela aceitação da denúncia.
Com isso, a expectativa é de que o placar dos tucanos na CCJ seja de 6 votos a 1 contra o Planalto - são sete os membros do PSDB na colegiado. O único que deve ficar do lado de Temer e votar pelo não prosseguimento do pedido da PGR é o deputado Paulo Abi-Ackel (MG), aliado do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Até a divulgação do voto de Jutahy Junior, as contas indicavam que o PSDB registraria 5 votos contra e 2 a favor de Temer.
Mesmo com sinais cada vez mais claros de que os tucanos votarão majoritariamente contra o governo na Câmara, o Palácio do Planalto decidiu não fazer "movimentos bruscos" em relação à sigla. Segundo auxiliares de Temer, as quatro pastas comandadas pelo PSDB serão mantidas - Direitos Humanos, Cidades, Secretaria de Governo e Relações Exteriores.
Os tucanos deram ainda outros sinais de que a participação na gestão Temer está com os dias contados. Em evento no interior de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin, que apoiava a permanência do PSDB no governo, disse nesta terça-feira (11/7), que o partido está em busca de convergência para deixar a base do peemedebista, pois "não precisa ter pessoas no governo".
"Apoio total a todos os projetos para a retomada do emprego e renda, mas cada vez vai ficando mais claro que não há necessidade de o partido ter pessoas no governo, por mais gabaritadas que sejam, por mais preparadas que sejam para poder ajudar o Brasil e o povo brasileiro nesse momento difícil. Acho que (o PSDB) caminha para isso", afirmou o governador.
Discordância
Aliado de Alckmin, o prefeito João Doria se posicionou de outra forma. Questionado sobre a declaração do governador, Doria disse que a reunião dos tucanos em São Paulo, na segunda-feira, 10, no Palácio dos Bandeirantes, não deliberou sobre o rompimento com o governo Temer.
"Embora eu respeite evidentemente a posição do governador Geraldo Alckmin, a decisão é continuar avaliando dia a dia as questões do governo Temer, compreendendo também a posição daqueles que são ministros de Estado", disse o prefeito. Ainda segundo Doria, o partido entende que haverá um afastamento "gradual" da gestão para não prejudicar o País.
"Temos que compreender que a política econômica, liderada pelo ministro Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, vem produzindo até aqui bons resultados, sobretudo diante das circunstâncias políticas do País. E é preciso preservar isso", afirmou o prefeito.
Já o governador do Paraná, Beto Richa, reforçou ontem o coro dos que defendem o desembarque. Para ele, a proporção de votos pela admissibilidade da denúncia contra Temer deve se repetir no plenário da Câmara. "É inegável que o número de descontentes com o governo aumentou. E a situação do governo deteriorou-se."
FHC
Em entrevista ao programa Roberto D;Ávila, da GloboNews, na noite desta terça-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a relação entre Temer e o PSDB fica "muito difícil" a partir do momento em que os deputados tucanos votarem pela aceitação da denúncia da PGR contra o presidente.