Politica

Meirelles se alia a evangélicos e sinaliza que disputará eleições em 2018

Ministro participa de evento da Assembleia de Deus no Pará ao lado do candidato ao governo do estado Helder Barbalho, o que reforça a suspeita de que pretende concorrer à Presidência da República em 2018. Mercado comemora e classe política se preocupa

Antonio Temóteo, Denise Rothenburg
postado em 06/07/2017 06:00
Ministro participa de evento da Assembleia de Deus no Pará ao lado do candidato ao governo do estado Helder Barbalho, o que reforça a suspeita de que pretende concorrer à Presidência da República em 2018. Mercado comemora e classe política se preocupa

Os sinais de que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, será candidato ao Palácio do Planalto em 2018 têm animado o mercado e despertado preocupação na classe política. Caciques de diversos partidos acompanham com lupa os movimentos recentes do chefe da equipe econômica. Parlamentares experientes veem nele um candidato que poderia neutralizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma corrida presidencial já que, com Antonio Palloci, foi a ancora econômica nos dois mandatos do petista.

Com o envolvimento dos principais líderes do PSDB na Operação Lava-Jato, com exceção do prefeito de São Paulo, João Doria, Meirelles teria apoio de empresários e banqueiros para conduzir as reformas necessárias para que a economia volte a crescer de maneira sustentável. ;Essa candidatura depende de sinais concretos de recuperação do país em 2017 e 2018, além da queda do nível de desemprego. Sem isso, ele perde pela falta de habilidade política;, diz um parlamentar experiente.

[SAIBAMAIS]Tanto PSD, partido de Meirelles, quanto o PMDB, do presidente Michel Temer, viram aflorar as pretensões do ministro da Fazenda quando ele inaugurou uma conta no Twitter. ;Ele fala com o mercado quando quer e por meio de coletivas que convoca. No microblog, ele se dirige à população em geral, sobretudo os mais jovens que são conectados;, diz um peemedebista. A participação de Meirelles, ao lado ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho (PMDB-PA), nas comemorações do aniversário de 106 anos da igreja evangélica Assembleia de Deus também foi vista como um ato político.

Os dois receberam o título ;Tributo de Gratidão; da congregação, durante evento em Belém (PA), e posaram lado a lado para fotos. Barbalho é candidato ao governo do Pará e lidera as intenções de voto, com 34,4%, conforme levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas. A participação do chefe da equipe econômica na cerimônia não constava da agenda oficial. Segundo a Fazenda, o encontro do ministro com os líderes da Assembleia de Deus no Brasil teve carácter particular e por isso não foi divulgado.

Até os economistas e os banqueiros que têm se encontrado com Meirelles em reuniões na Fazenda percebem uma tentativa do chefe da equipe econômica de mudar o discurso técnico e focado exclusivamente na economia. ;Ele tem falado muito mais de política do que de economia. Há uma mudança clara;, comentou um deles.

Desvantagens


Apesar de contar com a simpatia de políticos e do mercado, Meirelles é visto como um negociador político pouco habilidoso. Diversos caciques apontam como um erro do ministro insistir na aprovação da proposta que reonera diversos setores em meio à crise política e econômica. ;É um equívoco apostar nisso. Muitos dizem que a medida trará mais desemprego. Ele não é do ramo e precisa ter um tino maior para negociar e atender os pleitos da classe política;, disse outro parlamentar.

Mesmo no partido de Meirelles, o PSD, sua candidatura é vista com ressalvas. O receio de um cacique da legenda é que um embate entre o PT, PSDB e Jair Bolsonaro poderia sufocá-lo. ;Ulysses Guimarães, fiador da democracia, teve desempenho pífio nas eleições de 1989 diante do número de candidatos e não foi nem para o segundo turno. Meirelles teria de ser um nome de convergência, uma espécie de plano B;, disse.

Um economista que goza de proximidade do chefe da equipe econômica afirmou que sua candidatura teria apoio do mercado, mas só decolaria se o país voltasse a crescer. ;O principal problema do Brasil é fiscal e, sem o avanço da reforma da Previdência, o rombo nas contas públicas continuará. Se fosse aprovada, teríamos juros menores e retomada da geração de riquezas. A Selic vai cair porque a inflação está baixa, mas não há recuperação da confiança;, alertou.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação