Antes de ser preso preventivamente pela Polícia Federal, o ex-assessor da Presidência e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) disse ao executivo do Grupo J Ricardo Saud que a situação do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, era "muito difícil" e avaliou que ele seria afastado do cargo por Michel Temer. Na conversa, gravada em Brasília antes de o peemedebista ser preso em junho - ele foi solto no sábado -, eles falavam sobre uma tentativa de proteger investigados pela Operação Lava-Jato.
"Eu acho que a situação do ministro Padilha é muito difícil", afirma Loures, que não sabia que estava sendo gravado. "Ele não deixará o governo logo, mas será afastado. (Temer) Vai afastar o Padilha e outros, eventualmente outros, quando oferecerem a denúncia."
Loures lembrou o que Temer disse no início do ano sobre como seria o procedimento com membros do governo denunciados pela Lava-Jato. O afastamento ainda manteria o foro privilegiado do ministro.
"A gente tem de aguardar aquele tempo que falei, quanto tempo demora para o Ministério Público apresentar a denúncia. O que o presidente falou foi ;aquele que for denunciado pelo MP será afastado do governo, se essa denúncia for aceita pelo Supremo Tribunal Federal, está demitido;. Acho que ele (Temer) vai afastar o Padilha", diz Loures.
A gravação, que tem quase duas horas, foi feita por Saud poucos dias antes de Loures ser filmado carregando uma mala com dinheiro, em São Paulo. O delator queria saber dele da situação do governo e as investigações que encurralaram a J.
O ex-assessor especial de Temer estava preso por suspeita de recebimento de propinas, mas foi solto por decisão do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF.
No vídeo feito pela Polícia Federal, a mala que aparece nas mãos de Loures tinha R$ 500 mil, entregues pelo executivo do Grupo J - dos irmãos Joesley e Wesley Batista -, supostamente para comprar o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Joesley disse a procuradores que Loures foi indicado por Temer para intermediar interesses do grupo.
Em 26 de junho, a Procuradoria-Geral da República denunciou formalmente o presidente Temer para o STF por crime de corrupção, decorrente das revelações de delatores da J.
Já Padilha, citado por Loures, não é réu na Lava-Jato. Seu nome foi citado nas delações da Odebrecht, como ligado a acerto de R$ 10 milhões em propinas para Temer na campanha de 2014, para a chapa com Dilma Rousseff.