A legitimidade de quem vai encabeçar o governo de transição, o terceiro em menos de um ano e meio, seria ainda mais questionada. Muitos no Brasil acreditam que este caos político deveria ser resolvido com eleições diretas, antes das marcadas para 2018. Mas, para isso, seria necessária a aprovação de uma emenda constitucional.
Apoio do mercado
Temer prometeu tirar o Brasil da pior recessão de sua história através de uma série de ajustes impopulares, mas que pretendem devolver a confiança aos investidores. Já conseguiu aprovar o congelamento dos gastos públicos durante 20 anos e abrir à iniciativa privada o setor petroleiro, mas faltam aprovar duas de suas principais bandeiras: as reformas trabalhista e da previdência.
O mercado espera com ansiedade essa aprovação, mas a crise política retarda o processo. "Há uma divisão do mercado, mas uma parte ainda acredita que seria melhor o Temer continuar. Porque a possibilidade de reformas é maior e porque há uma garantia maior de que permaneça a atual equipe econômica", afirma o analista Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores.
Seu principal sócio no governo, o PSDB, também quer a aprovação dessas reformas antes das eleições, mas está dividido a respeito do custo político de permanecer fiel a um presidente com semelhante índice de desprestígio.
O partido está fragilizado, além disso, pelas investigações contra seu ex-líder Aécio Neves e parte de sua cúpula, e também não perde de vista que provavelmente precisará aliar-se ao PMDB de Temer se quiser a Presidência em 2019.
Silêncio nas ruas
Um dos motivos que levou à saída de Dilma foi a pressão de milhões de pessoas mobilizadas em todo o país. Mas o grito de "Fora Temer" tem sido tímido até agora nas ruas, apesar de 65% dos brasileiros acharem que sua saída seria melhor para o Brasil, segundo recente pesquisa Datafolha.
Os sindicatos protagonizaram a maior e mais violenta manifestação em 28 de maio passado, em Brasília, mas o PT do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010) tem seus próprios problemas de corrupção e não conseguiu gerenciar o descontentamento popular.
Ao negar-se taxativamente a renunciar, Temer complicou muito mais o cenário e, de alguma forma, está esticando ao máximo a solidez constitucional do país. "Mas o Brasil tem instituições muito fortes. Não existem hoje aventureiros buscando soluções fora da constituição, fora da institucionalidade. Então, para nós, esse é um conforto. É saber, seja o que for acontecer, que vai ser em decorrência do comprimento da Constituição", afirma a procuradora regional da República, Silvana Batini.