Depois de suspense de quase um mês, a Executiva Nacional do PSDB decidiu manter o apoio ao governo Michel Temer. O partido se mostrou rachado desde a divulgação das gravações feitas por Joesley Batista, dono da JBS, que atingiam o presidente e o senador Aécio Neves. A decisão tucana traz alívio ao peemedebista e à base aliada, pois tem impacto direto na agenda de reformas e numa eventual abertura de processo contra Michel Temer pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A reunião estava marcada para a última quinta-feira e foi adiada para ontem para esperar a decisão do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que acabou na sexta. Ao sair da reunião, o senador José Serra (SP) foi cercado pela imprensa e declarou que ;o partido não fará nenhum movimento de saída do governo; a ideia é retomar projetos importantes, como a reforma política;. Mas o apoio da legenda não está sólido. De acordo com Serra, ;se houver fatos novos, haverá novas análises;. O presidente interino da legenda, Tasso Jereissati, afirmou que, quanto à eventual de denúncia do procurador Rodrigo Janot contra Temer, o partido não fechou questão. ;A decisão de hoje é que, neste caso, cada um vota de acordo com a sua consciência.; Sobre o apoio a Temer, a decisão foi clara: ;Não vamos desastibilizar e não vamos sair do governo.;
Por sua vez, o líder do partido na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), destacou que, apesar de algumas opiniões contrárias no partido, a decisão da maioria será respeitada pelos demais tucanos. O prefeito de Piracicaba (SP), Antônio Carlos Pannunzio, também falou à imprensa e reiterou a fala de Serra. ;A convicção do partido é que não podemos dar as costas ao Brasil. Não é chutando o balde que vamos ajudar o país.;
O time dos cabeças-pretas, que é o apelido dado à ala mais jovem do partido, foi o que mais pressionou pelo fim do apoio ao governo. A justificativa do grupo baseava-se nas denúncias anunciadas por Rodrigo Janot e que atingiram Temer, as quais na visão do grupo, prejudicam a imagem do PSDB e as pretensões tucanas de comandar o Planalto em 2019. No entanto, o deputado federal Daniel Coelho (PE), um dos principais representantes dos cabeças-pretas, desfalcou o grupo, que conta com apenas uma dúzia de parlamentares. Ele não foi à reunião, pois estava em viagem oficial à Coreia do Sul.
A ala dos cabeças-brancas, que são os tucanos há mais tempo e com mais experiência no partido, defendeu o apoio a Temer para não entrar em constrangimento com o governo que contemplou a legenda com quatro ministérios e ampla participação na construção da agenda de reformas. O encontro contou com as presenças dos quatro ministros do partido: Bruno Araújo, da pasta de Cidades, Antônio Imbassahy, da Secretaria de Governo, Aloysio Nunes, das Relações Exteriores, e Luislinda Valois, da Secretaria de Direitos Humanos. Além deles, participaram lideranças tucanas nacionais, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital paulista, João Doria.
Do Congresso, estavam os senadores José Serra (SP), Ricardo Ferraço (ES) e Antônio Anastasia (MG), além dos deputados federais Sílvio Torres (SP), que é secretário-geral do PSDB, Rogério Marinho (RN), Betinho Gomes (PE), Miguel Haddad (SP) e Mariana Carvalho (AM). O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves não compareceram à executiva. O ex-presidente participou de outro evento, o do Conselho Fiscal da Fundação FHC, em São Paulo. Aécio não informou o motivo da ausência, embora estivesse em Brasília.
Base aliada
O Planalto deve concentrar esforços nos próximos dias para manter a fidelidade da base e, assim, alcançar duas vitórias importantes para a sobrevida de Michel Temer: a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência e o arquivamento da denúncia prevista para ser apresentada nesta semana pelo procurador-geral Rodrigo Janot. No caso da reforma previdenciária, por se tratar de Proposta de Emenda à Constituição (PEC), o governo precisa de 308 votos em dois turnos de votação para garantir que a proposta seja aprovada no plenário da Câmara e depois siga para a próxima fase, que é no Senado.
Quanto à denúncia de Janot, ela será apresentada ao Supremo, que em seguida vai solicitar a autorização de dois terços, ou 342 parlamentares da Câmara dos Deputados para abrir o processo contra o presidente. Esse processo passa primeiro pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Casa, que é presidida por um correligionário de Temer, o deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG). Ele é quem deve indicar o relator que analisará o pedido do STF. Para arquivar o processo, Michel Temer precisará do apoio de 172 parlamentares.
Por se tratar de crime comum e não de responsabilidade, caso o STF seja autorizado pela Câmara e decida abrir o processo, Temer será afastado por seis meses. Na época do processo de crime de responsabilidade de qual foi acusada a ex-presidente Dilma Rousseff, o Senado foi quem recebia a denúncia e abria o processo de investigação, afastando-a do exercício da Presidência por 180 dias. Com a atual configuração da base, o presidente conseguiria não apenas o número necessário para aprovar a reforma da Previdência, mas também para arquivar a denúncia de Janot. Isso porque, caso o PSDB permaneça no governo, seriam aproximadamente 343 votos de aliados.