Alessandra Modzeleski - Especial para o Correio
postado em 26/05/2017 06:00
A manifestação de quarta-feira terminou com nove presos. Nenhum dos detidos é residente do Distrito Federal e todos são maiores de idade. Do total, quatro são de São Paulo, três do Espírito Santo, um do Recife e outro da Bahia. Todos chegaram à capital em caravanas para participar do ato convocado por forças sindicais e movimentos sociais. O levantamento é da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF).
A polícia prendeu três paulistanos, de 19, 18 e 32 anos, por porte de entorpecentes e porte de arma branca. O quarto residente de São Paulo, 35 anos, foi detido por lesão corporal e resistência. Um jovem de 24 anos da Bahia foi levado à delegacia por desacato, três do Espírito Santo, por pichação e porte de arma branca. O trio tinha 47, 34 e 31 anos. Outro homem, de 30 anos, do Recife, também foi detido por dano a bem público. A secretaria informou que, por se tratarem de crimes de menor potencial ofensivo, os detidos assinaram um termo de compromisso e foram liberados. No entanto, eles serão convocados pela Justiça futuramente.
Violência
Apesar do pouco número de detidos, a manifestação esteve marcada pela violência constante entre policiais e manifestantes. Os grupos mais agressivos avançaram contra a Polícia Militar e a Tropa de Choque com rojões, paus e pedras. Do outro lado, os militares responderam com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. A situação saiu do controle e policiais militares foram flagrados utilizando armas de fogo, como consequência, um homem foi baleado no maxilar. A Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social identificou os militares e abriu inquérito para investigar a conduta.
[VIDEO4]
Para especialistas, faltou organização e respeito ao uso progressivo da força. ;O protocolo de uso da força significa que, de acordo com a ameaça correspondente, a intensidade da força vai aumentando. Ela deve ser respeitada e moderada, exatamente para não prejudicar a integridade física, tanto de cidadãos quanto da Polícia Militar. O uso da arma letal é proibido;, explica Marcelle Figueira, professora do curso de segurança pública da Universidade Católica de Brasília (UCB). ;É inconcebível que a polícia use arma de fogo durante uma manifestação, um espaço em que você tem pouco controle do resultado da sua ação.;
[VIDEO1]
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, quase 3 mil militares trabalharam exclusivamente nas manifestantes, aproximadamente 25% do efetivo da PM do DF. Para especialistas, a quantidade da PMs não garantiu a efetiva ordem na manifestação. O ideal, segundo Marcelle, é que a polícia pense em uma estratégia para isolar grupos radicais e violentos e não ;criminalizar a manifestação como um todo;. ;Muitas vezes o que se opta é por acabar com a manifestação toda, dispersar. Isso cria um ambiente de pânico, inclusive dentro da polícia;, explicou.
[VIDEO2]
Para a socióloga da Universidade de Brasília (UnB) Maria Stela Grossi, os fatos da manifestação foram desmedidos, ;por mais que os atos de vandalismo tenham, sim, imperado e não possam ser aceitáveis;. ;Suspeito que a PMDF tenha mal dimensionado a quantidade necessária de efetivo na ação e acabou perdendo o controle da situação, diante disso, utilizou força desmedida para conter o atos dos quais já tinha perdido o domínio;, analisou.
[VIDEO3]
Professor de Direito do Rio de Janeiro na Faculdade Mackenzie, Newton de Oliveira acredita que o que ocorreu em Brasília vem se multiplicando pelo Brasil todo. ;É absoluta falta de controle da polícia. O uso da força deve ser progressivo e planejado, e esse planejamento implica uma ação prévia de inteligência;. Para o especialista, os atos têm data e hora para ocorrer, e a PM tem instrumentos legais para fazer um planejamento imaginando o que encontrará lá.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal (SSP/DF) reiterou que ;o aparato policial foi proporcional à quantidade de manifestantes. Houve, porém, alteração no ânimo da maioria dos participantes. Tais pessoas não tinham a intenção de exercer a livre manifestação de forma ordeira e civilizada;.