De Norte a Sul do país, em todos os estados e no Distrito Federal, ontem o Brasil foi palco de uma série de manifestações em protesto contras as reformas trabalhistas e previdenciárias propostas pelo governo Michel Temer. Diversas categorias cruzaram os braços aderindo à greve geral convocada por centrais sindicais. Bancários pararam em todo o país, assim como funcionários dos Correios, em greve desde o dia anterior, também engrossaram o movimento. De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), 90% da categoria aderiu às paralisações nas plataformas da Bacia de Campos e do Espírito Santo, além de refinarias no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Ceará, bem como na fábrica de fertilizantes no Paraná.
Na BR-101 Sul, nas proximidades do município do Cabo de Santo Agostinho (PE), um motorista que dirigia uma Kombi acabou atropelando e matando um motociclista ao tentar fugir de um bloqueio realizado por manifestantes que tentavam impedir o acesso ao Complexo Portuário de Suape. O protesto dos estudantes e funcionários da USP terminou com um aluno agredido e preso e um policial militar ferido na testa por uma pedra.
Um dos momentos mais tensos foi o grande tumulto promovido na Cinelândia, na região central do Rio. Ao tentar conter vândalos que destruíam telefones públicos e incendiaram lixo, a Polícia Militar atacou com bombas de gás e tiros de balas de borracha a multidão que participava do protesto. Houve pânico e correria. Jovens mascarados responderam lançando pedras e paus.
Em São Paulo, manifestantes atearam fogo em um canteiro próximo à barreira montada em frente à casa do presidente Michel Temer, na zona oeste de São Paulo. A Força Tática da Polícia Militar isolou toda a área. Aos gritos de ;Fora, Temer;, um carro de som convocava os manifestantes a seguirem até a barreira para colocarem uma bandeira do movimento e dar um fim simbólico ao ato. A Polícia Militar dispersou com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo os manifestantes.
Paralisações
Na maior capital do país, os serviços de ônibus, metrô e trem pararam as atividades a partir da meia-noite. Nas primeiras horas da manhã, os paulistanos encontraram estações vazias, que só voltaram a funcionar parcialmente horas mais tarde. A obstrução de vias com a queima de pneus ocorreu em vários pontos da capital, que aos poucos foram ocupados por bombeiros e policiais, mas sem registro de confrontos. Funcionários de companhias aéreas também protestaram, gerando atrasos em viagens programadas para a manhã de ontem. O movimento de paralisação ainda recebeu o apoio dos professores da rede pública estadual, municipal e particular, bem como dos bancários.
No Rio Grande do Sul, a adesão ao movimento foi grande, principalmente na região metropolitana da capital gaúcha. Sem a circulação de ônibus urbanos, manifestantes também fizeram bloqueios em algumas rodovias do estado e avenidas de Porto Alegre. A prefeitura autorizou que vans escolares transportem passageiros a uma tarifa de R$ 5. O metrô, que liga a capital às cidades do entorno, também não funcionou. Os bloqueios em estradas se repetiram pelo interior gaúcho.
Em Belo Horizonte, logo ao amanhecer, as manifestações se concentraram em vias de acesso à capital, com a queima de pneus. Houve adesão dos funcionários do metrô e do sistema de transporte público, bem como das escolas das redes municipal, estadual e particular.
Recife
Em Pernambuco, os bloqueios pipocaram em dezenas de pontos de rodovias, ruas e avenidas de várias cidades. Na região metropolitana do Recife, os ônibus não circularam e o metrô funcionou parcialmente. De acordo com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), 90% do comércio do centro da cidade permaneceu com as portas fechadas por boa parte da manhã. A maior parte das escolas, tanto públicas quanto privadas, optou por suspender as aulas. As três maiores instituições de ensino superior da capital também paralisaram as atividades. Nos hospitais públicos e postos de saúde, o atendimento ocorreu parcialmente.
No centro de Fortaleza, o comércio abriu normalmente, mas o movimento de consumidores foi pequeno. Bancários e servidores ligados ao Sindisaúde promoram passeatas pelas ruas pedindo para os lojistas baixarem as portas. O pedido só era atendido durante a passagem dos manifestantes.
Na capital do Mato Grosso, a mobilização dos trabalhadores começou por volta das 6h na região central de Cuiabá. Além do transporte coletivo, houve confirmação de adesão ao movimento de 28 sindicatos de trabalhadores da iniciativa privada, 32 dos servidores públicos do estado, além de servidores federais e municipais. As visitas aos presos foram suspensas, já que os agentes penitenciários aderiram à paralisação. De acordo com o comando de greve, o movimento atingia também os maiores municípios do estado.