Michelle Horovits - especial para o Correio
postado em 23/04/2017 08:00
O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Antônio Costa, afirmou ter informações de que será demitido do cargo nos próximos dias. ;Estou aguardando a exoneração ser publicada;, disse. Segundo ele, isso se deve ao fato de não ter cedido à pressão do PSC para indicar afilhados políticos da sigla para coordenações de áreas técnicas. ;As coordenações regionais trabalham diretamente com a comunidade indígena e eles não aceitam políticos. Eles (os integrantes do partido) queriam colocar pessoas que nunca trabalharam com o tema;, comentou.
O dentista e pastor evangélico tem uma longa experiência de atuação em áreas indígenas. Era funcionário do PSC, ao qual não é filiado, quando foi indicado pela legenda para o cargo. Disse que lhe foi assegurado que teria a liberdade de nomear apenas especialistas para as coordenadorias regionais e assessorias da Funai.
O líder do governo André Moura (PSC-SE) e o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, deputado federal licenciado (PMDB-PR), a quem a Funai está subordinada, passaram a exigir a nomeação de vários políticos para cargos técnicos. ;A disputa por esses espaços está mais acirrada;, avalia Costa. Procurado, o Ministério da Justiça não se pronunciou sobre as declarações de Costa em relação a exigências de nomeações de políticos e sobre sua iminente demissão. Moura não atendeu aos telefonemas.
Segundo Costa, o mal-estar ficou mais sério quando ele contrariou a nomeação de coordenadores regionais em Boa Vista, Campo Grande e Passo Fundo (RS). Os indicados, afirmou, têm apoio de parlamentares contrários à política indigenista e à demarcação de terras para essa população. ;A Funai é um órgão muito específico. A intervenção política não é saudável para sua atuação, que já estava perdendo força de trabalho e também orçamento. Se não houver, por parte do governo, uma nova proposta, a Funai entrará em forte crise que pode inviabilizar sua gestão.;
A exoneração deve ser publicada no Diário Oficial da União (DOU) nos próximos dias. O substituto deverá ser indicado pelo mesmo PSC. Costa garante que após a exoneração vai continuar lutando a favor dos povos indígenas. ;O Brasil precisa refletir que cada um ao ocupar um cargo público, precisa cumprir preceitos básicos que envolvam transparência.; Costa ficou quatro meses no cargo, que estava vago havia sete meses quando foi nomeado. Antes dele, o partido cogitou dois militares para o cargo. Diante de críticas, porém, o então ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, desistiu da ideia.