Palocci estará amanhã diante do juiz da Lava-Jato. E terá de confrontar a acusação feita por João Santana e Mônica Moura de que era o ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma que intermediava os pagamentos, via caixa dois, para os marqueteiros, com recursos vindos da Odebrecht. É a confirmação do ;Italiano; já citado pelo ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht em depoimento ao mesmo Moro.
;O meu interlocutor para discutir valores e negociar campanha sempre foi o Palocci. Depois que acertava comigo o valor da campanha, ele me dizia: ;então, vai ser pago ;xis; por dentro, isso você acerta com o tesoureiro. E essa parte por fora, o partido vai pagar tanto e a Odebrecht vai colaborar com tanto;. E ele me dizia: ;vá lá e acerta com eles (Odebrecht), como você quer;;, confirmou Mônica.
O ex-ministro, preso em Curitiba desde 26 de setembro, vem sendo muito pressionado pela família, especialmente pela mulher, para que feche o acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, é contra o procedimento e já ameaçou abandonar o cliente caso aceite a proposta do MP, que poderia lhe livrar de uma temporada na cadeia e ainda trazer outras vantagens.
O PT está em pânico, com medo de Palocci. Eles tentam se apoiar no histórico de que até agora nenhum cacique do partido fechou acordo de delação ; o único que cedeu às pressões do Ministério Público Federal foi o ex-senador Delcídio do Amaral. Mas os exemplos postos à mesa ; João Vaccari Neto e José Dirceu ; têm perfis completamente distintos.
Vaccari é mochileiro, nas palavras de um dirigente partidário, acostumado a comer ;pão com mortadela;. Já Dirceu, embora mais acostumado às benesses financeiras e a uma vida mais luxuosa, já foi guerrilheiro, morou em Cuba. Logo, estaria mais disposto a aguentar a pressão. Palocci, não. Ele sempre foi visto como alguém mais refinado, ligado ao mercado financeiro e ao PIB paulistano. E ainda suscetível às pressões da mulher para diminuir o tempo de prisão.
Por isso, o partido já fez uma lista de vulnerabilidades do ex-presidente Lula. Na avaliação de integrantes do partido, a fragilidade não estaria no sítio em Atibaia ou no tríplex do Guarujá. O que pode complicar a vida de Lula seriam os incentivos fiscais e desonerações concedidos ao longo de seu governo, como os mimos à indústria automotiva e aos produtos da linha branca, aprovados em medidas provisórias que poderiam ter gerado contrapartidas para campanhas eleitorais.
E quem era o responsável pela política de incentivo à economia? Palocci. Além disso, a percepção é de que ele só tem outro trunfo para convencer os agentes da Lava-Jato a aceitar uma delação: destrinchar a atuação do setor financeiro no esquema de corrupção investigado. ;Se formos lembrar, o Banco Rural e o BMG não se recuperaram ainda totalmente do mensalão. E, nessa atual crise, apenas o BTG Pactual foi envolvido;, alertou um petista.
Sentença
Todo esse cenário aumenta a tensão em relação ao depoimento de Lula, marcado para 3 de maio, em Curitiba. Claques dos dois lados ; petistas e adversários do PT ; estão convocando militantes para acompanhar o face a face de Lula com Moro. ;Estamos estudando se haverá uma comitiva de senadores para acompanhar o depoimento;, admitiu o senador Jorge Viana (PT-AC).
;Como as pesquisas estão sendo boas para Lula, eles vão querer apertar esse cerco. Prender eu não acredito, mas vão fazer de tudo para tornar Lula inelegível;, reclamou o senador Paulo Rocha (PT-PA). Um espectador privilegiado do processo não acredita que um eventual pedido de prisão ou condenação de Lula ocorra em um tempo próximo. ;Moro sabe lidar com a pressão e com o jogo midiático. Lula só será condenado em um prazo mais próximo da eleição;, aposta um jurista.
Em outra derrota considerável, o relator do processo de cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Herman Benjamim, negou ontem o pedido da defesa da ex-presidente de ter acesso à delação premiada do casal de marqueteiros. Alegou que a delação está em segredo de justiça e que os marqueteiros vão depor na semana que vem no TSE.
A situação de cada um
Justiça Federal em Curitiba encurrala o PT
Os marqueteiros prestaram depoimento ontem ao juiz Sérgio Moro. Os dois já fecharam acordo de delação premiada, homologado pelo Supremo Tribunal Federal. Eles podem destrinchar as campanhas de Lula e Dilma. Os dois também serão ouvidos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na próxima semana
; Antonio Palocci
Ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma Rousseff vai ser ouvido amanhã. O PT teme que ele acerte um acordo de delação premiada com o Ministério Público e complique ainda mais a vida dos ex-presidentes petistas
; Lula
Ex-presidente depõe a Sérgio Moro no próximo dia 3. Evento deve ser marcado por claques de lado a lado. Defesa do petista pediu 87 testemunhas no processo. Moro aquiesceu, mas determinou que Lula esteja presente em todas as audiências
Caixa dois está em ;todas as campanhas;
A empresária Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, admitiu ontem ao juiz federal Sérgio Moro o uso de caixa dois ;em todas as campanhas;. E disse acreditar que ;todos os marqueteiros; trabalhem com pagamentos não contabilizados. ;Todas as campanhas políticas que nós fizemos (...), quando eu era apenas uma funcionária de outras campanhas, de outros marqueteiros, sempre trabalhamos com caixa dois, com recursos não contabilizados;, afirmou Mônica. Ela disse ainda que o marido sabia da movimentação financeira. ;Tudo o que eu fazia, eu me reportava a ele, óbvio. Ele sabia de tudo.;
Pedido feito por Lula
O ex-marqueteiro do PT João Santana disse ontem ao juiz Sérgio Moro que fez a campanha presidencial em El Salvador a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com dinheiro de caixa dois oriundo da Odebrecht. ;Houve recebimento de pagamentos não contabilizados?;, quis saber Moro. ;Houve, constante, aliás como é uma prática no mercado de marketing-político eleitoral, no Brasil e em boa parte do mundo.; ;Houve pagamento não contabilizado proveniente do Grupo Odebrecht?;, perguntou o magistrado. ;Sim, sim, bastante;, respondeu.