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Depoimento de João Santana no julgamento da chapa Dilma-Temer preocupa PT

Com delação do marqueteiro de Lula e Dilma, petistas acreditam que caixa 2 será apontado como prática nas eleições. Como o profissional não tem filiação, os riscos aumentam

A primeira testemunha convocada para depor na nova fase do julgamento do processo de cassação da chapa Dilma-Temer, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, será ouvido hoje. Mantega, convocado pelo advogado da ex-presidente, Flávio Caetano, foi convocado para tentar contradizer o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, que garantiu ter pago quase R$ 150 milhões em caixa 2 na campanha de 2014.

[SAIBAMAIS]Os petistas, no entanto, não temem o que falará Mantega. O receio deles maior é do que dirá o casal João Santana e Mônica Moura, convocado pelo vice-procurador eleitoral, Nicolau Dino. Os marqueteiros das últimas três campanhas presidenciais petistas ; Lula 2006, Dilma 2010 e 2014 ;, fecharam um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, pagaram uma fiança de R$ 30 milhões em uma tentativa de diminuir as respectivas penas.

Para integrantes da cúpula partidária, João Santana e Mônica Moura deverão confirmar que houve caixa 2 na campanha presidencial do PT. Para esses parlamentares, os marqueteiros denunciarão o que for necessário para evitar uma longa temporada na cadeia. ;Eles podem até dizer que têm amizade com Lula. Mas o nível de comprometimento deles é diferente de um filiado petista e de alguém que tenha feito parte, efetivamente, de nosso governo;, resumiu um ex-líder petista na Câmara.

O trauma do PT remonta ao escândalo do mensalão, em 2005. Na época, o governo Lula conseguia administrar, a duras penas, a crise política, quando o marqueteiro da campanha presidencial de 2002, Duda Mendonça, foi à CPI dos Correios confessar que tinha recebido caixa 2 na disputa entre Lula e o tucano José Serra.

A crise se aprofundou e o impeachment chegou a ser cogitado. Mas o bom resultado econômico e o apoio popular não apenas salvaram Lula como o levaram a reeleger-se em 2006. O paralelismo não é exagerado. João Santana é cria de Duda e só assumiu as campanhas petistas após o ocaso de seu criador.

Testemunha

No caso de Mantega, a situação é diferente. Ele foi convocado como testemunha de defesa, embora a situação do ex-ministro da Fazenda não seja tranquila. Ele foi citado por Marcelo Odebrecht como um dos responsáveis ; ao lado do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, preso em Curitiba ; por arrecadar propinas da empreiteira para campanhas do PT.

Ele chegou a ser investigado na Operação Zelotes, que investigava a compra, por empresas em débito com o governo, de decisões favoráveis no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Mantega, contudo, acabou não sendo indiciado pela Polícia Federal. O empresário Eike Batista, preso desde o fim de janeiro pela Operação Calicute, também acusou Mantega de pedir R$ 5 milhões para campanhas do PT. O pedido teria sido feito após uma reunião no Ministério da Fazenda. Mantega foi alvo de um pedido de condução coercitiva da Operação Lava-Jato.

Mas a repercussão negativa do pedido após os policiais terem ido atrás de Mantega em um hospital no qual sua mulher seria operada em um tratamento de câncer, obrigou o juiz Sérgio Moro a cancelar a condução. No caso de Palocci, preso desde o final de setembro em Curitiba, circulou nos últimos dias um boato de que ele poderia estar negociando um acordo de delação premiada. Petistas graúdos, contudo, afirmam que o ex-ministro da Fazenda dificilmente faria isso, embora tenha sofrido com muitos ataques de correligionários. ;Ele jamais fez algo que Lula não aprovasse. Os petistas que batiam em Palocci agiam assim porque tinham medo de criticar Lula;, disse um amigo pessoal do ex-ministro.