Politica

Doações de empresas investigadas a políticos crescem em ritmo acelerado

Odebrecht, JBS e Grupo X aumentaram os repasses a campanhas a partir do momento que ficaram mais próximas do poder público

Natália Lambert, Paulo de Tarso Lyra
postado em 25/03/2017 18:08
Três empresas escolhidas pelas administrações petistas para figurar como as campeãs nacionais ; e que, atualmente, são alvo de investigações judiciais ; também tiveram aumentos exponenciais no ritmo de doações eleitorais no período em que tiveram proximidade com o poder. A Odebrecht, que detinha o título de maior empreiteira do país, ampliou, entre 2006 e 2014, quase 68 vezes o volume de doações eleitorais registradas no Tribunal Superior Eleitoral. As empresas X, criadas pelo empresário Eike Batista, aumentaram entre 2006 e 2010 (em 2014, não houve doações, pois o grupo tinha mudado de dono) em pouco mais de 50%. E o grupo JBS turbinou suas contribuições em 10 vezes no mesmo período.

A Odebrecht, que já desfilou em suas carteiras obras de portos, aeroportos, estádios de futebol, no Brasil e no exterior, amarga a pecha de que seus executivos negociaram a delação premiada batizada de fim do mundo. O seu ex-presidente Marcelo Odebrecht segue preso em Curitiba. Em 2006, primeira eleição geral após a chegada do PT e de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, a empresa doou ; segundo registros oficiais ; módico R$ 1,29 milhão.

Odebrecht, JBS e Grupo X aumentaram os repasses a campanhas a partir do momento que ficaram mais próximas do poder público

[SAIBAMAIS]Quatro anos depois, quando o PT conseguiu eleger a primeira mulher presidente do Brasil, esse valor já havia subido para R$ 6,34 milhões. Nas últimas eleições, com autorização para doações empresariais, o montante de contribuição já era de R$ 87,99 milhões. Os números se tornam ainda mais expressivos se for levado em conta que o próprio Marcelo admitiu ter doado, por intermédio de caixa dois, R$ 150 milhões apenas para a campanha de reeleição de Dilma Rousseff, tendo Michel Temer novamente como candidato a vice.

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O caso das empresas X, de Eike Batista, é um pouco mais singular. O empresário criou um império do nada, baseado em especulações de ações no setor de petróleo, gás e energia, mas viu tudo desmoronar da noite para o dia. Tanto que não existem registros de doações da empresa em 2014, quando o grupo já havia mudado de dono. Uma outra característica era que Eike contribuía, basicamente, como pessoa física ; apenas em 2012 uma de suas empresas, a MMX, contribuiu para uma campanha eleitoral.

Em 2006, quando o empresário estreou no cenário das contribuições eleitorais, doou como pessoa física R$ 4,3 milhões. Quatro anos depois, esse valor subiu para R$ 6 milhões. A preferência do empresário era apoiar candidatos presidenciais e aos governos de estados em que tinha negócios, como o Rio, de Sérgio Cabral Filho, Minas Gerais, de Aécio Neves, e o Pará, dos tucanos Almir Gabriel e Simão Jatene. Em 2014, Eike já havia perdido o controle de seu império e, no fim de janeiro deste ano, foi preso em um desdobramento da Operação Calicute, que também deteve, em novembro, o ex-governador Sérgio Cabral.

Carreira

O grupo JBS, que tem como carro-chefe a Friboi, não aparece diretamente citado na Lava-Jato, mas foi um dos conglomerados investigados na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. O grupo, que tem muita proximidade com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva, já teve inclusive um de seus proprietários ensaiando uma carreira política. A convite do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos ; morto em um acidente aéreo de 2014 ;, o empresário Júnior da Friboi filiou-se ao PSB.

Movimentos coordenados por Lula e pela ex-presidente Dilma Rousseff, em consonância com o atual presidente Michel Temer, levaram Júnior para o PMDB. Ele acabou não se compatibilizando com o cacique do PMDB goiano Íris Rezende e jamais se candidatou. Ainda assim, o fôlego do grupo impressiona. Em 2006, eles doaram R$ 7,2 milhões. Quatro anos depois, pouco mais de R$ 30 milhões. Em 2014, já eram R$ 76,7 milhões para vários candidatos.

;Todas essas eram empresas que buscavam espaços no mercado e se aproveitavam da proximidade com o poder, seja por meio de doações eleitorais, isenções fiscais ou linhas de financiamento vantajosas de bancos públicos;, lembrou o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz.

A Odebrecht afirmou que ;assinou acordo com autoridades do Brasil, Estados Unidos e Suíça e está em entendimento avançado com alguns países da América Latina para esclarecer sua participação em atos praticados pela companhia. A Odebrecht adotará as medidas adequadas e necessárias para, continuamente, aprimorar seu compromisso com práticas empresariais éticas e de promoção da transparência em todas as suas ações.;.

O grupo JBS afirmou ao Correio que ;todas as doações feitas a partidos políticos foram realizadas de acordo com a legislação, devidamente registradas e declaradas à Justiça Eleitoral e à Receita Federal;. E que elas sempre ;guardaram relação com a abrangência e proporcionalidade de suas operações;. Além disso, a ;companhia destaca ainda que as doações da JBS se pautaram na pluralidade partidária e no amadurecimento do processo democrático.; As empresas que compõem o Grupo X não quiseram se manifestar.

Adriana Ancelmo em prisão domiciliar

A ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), concedeu, ontem à noite, uma liminar autorizando a prisão domiciliar de Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador Sérgio Cabral. A decisão, de caráter provisório, reestabelece o que havia sido decidido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7; Vara Federal, até que o julgamento de um habeas corpus, pedido pela defesa nesta quinta-feira, seja concluído. No último dia 17, Bretas estabeleceu condições para que Adriana fosse para a prisão domiciliar: ela deve ficar em um imóvel sem linha telefônica e sem acesso à internet. O apartamento, porém, precisa passar por uma vistoria, já realizada esta semana, de acordo com o advogado da ré, Luís Guilherme Vieira.

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