Para o senador Edison Lobão (PMDB-MA), presidente da CCJ, não há qualquer prejuízo se as duas iniciativas caminharem juntas. Mas ele deixa claro que o abuso de autoridade tem prioridade por estar em regime de urgência. ;Vou conceder vistas coletiva para os senadores, com duração de uma semana, para que todos tenham acesso ao texto;, completou o presidente da CCJ.
;A questão do foro foi estigmatizada, mas não são apenas os parlamentares que têm o foro;, disse o peemedebista. O senador maranhense lembrou que o presidente da República, o advogado-geral da União e o procurador-geral da República têm foro no Supremo Tribunal Federal e os governadores têm a prerrogativa de serem julgados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). ;E qualquer cidadão também terá direito a isso. Ele é julgado em primeira instância, mas, com os sucessivos recursos, pode levar seu caso até o Supremo;, comparou ele.
[SAIBAMAIS]Lobão negou que a medida seja uma forma de blindar os investigados na Lava-Jato ou que tenha alguma ligação com a Operação Carne Fraca. ;O projeto é anterior à Lava-Jato e à Carne Fraca. Ele pretende coibir excessos dos agentes públicos;, completou Lobão.
No Congresso da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), em Florianópolis, o clima era de preocupação com a possibilidade de votação do projeto sobre abuso de autoridade. A avaliação geral é de que ele engessa as possibilidades de ações nas investigações e acua os agentes na atuação de operações sensíveis. A análise é de que a proposta sujeita certas ações, como pedidos de prisão, a interpretações muito subjetivas que podem ser encaradas como abuso de autoridade.
Em nota oficial, a ADPF afirma que a aprovação do projeto pode causar ;embaraços ao pleno funcionamento das instituições de combate ao crime organizado e à corrupção;. ;O projeto, que prevê atualização dos crimes de abuso de autoridade, é polêmico e precisa ser mais debatido, com calma e tranquilidade, buscando o bem do país, e não no calor dos acontecimentos, o que pode resultar em prejuízo enorme para a sociedade;, diz a nota.
Guerra particular
O Correio apurou que a polêmica em torno da Operação Carne Fraca fortaleceu os argumentos de senadores que defendiam o projeto de abuso, apresentado pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL). Eles acreditam que, antes de defender punições aos investigadores, parecia uma guerra particular de quem estava nos holofotes da Lava-Jato. Agora, não.
A argumentação do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, de que as falhas na Operação Carne Fraca vão causar prejuízos de R$ 1,5 bilhão por ano por até uma década, reforça o poder de convencimento dos peemedebistas. ;Nós mostramos que empresários sérios estão sendo prejudicados por ações inconsequentes de alguns agentes públicos;, acrescentou um aliado de Renan.
;Sem dúvida, a Carne Fraca permitiu que o projeto do abuso de autoridade se mexesse no Senado;, reconheceu o presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN). ;Alguns estão querendo usar de má-fé nesse debate. Não dá para comparar uma operação com a outra. De mais a mais, já existem muitos instrumentos jurídicos para punir o abuso de autoridade;, criticou o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ). ;Se essa proposta passar no Senado, não passa aqui na Câmara;, garantiu Miro.
Delegados da PF avaliaram que a Operação Carne Fraca era necessária e não duvidam da motivação da investigação, por se tratar do combate a atos de corrupção. A interpretação é de que houve erro na maneira como a operação foi divulgada, gerando repercussões equivocadas e a ideia de que o problema com a carne é sistêmico, e não pontual.