A pré-lista vazada das delações que foram entregues pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, mostra que, dentre candidatos a governos estaduais, ao Senado e à Câmara, eleitos ou não, o país está diante de quase 70 milhões de votos obtidos em campanhas ;anabolizadas; pela propina da Odebrecht. Até o momento, apareceram nas delações da Odebrecht seis candidatos a governador ; o número pode chegar ao dobro disso ;, 11 senadores e 7 deputados federais. Todos eles são citados nos depoimentos dados por ex-executivos das empreiteiras como beneficiários de doações oriundas de propina, seja por meio do caixa 2 ou em doações legais declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O levantamento feito pelo Correio, com base no desempenho eleitoral dos políticos nos mais recentes pleitos que disputaram, não leva em conta as eleições presidenciais de 2014. Se o desempenho de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) ; ambos também sob investigação na Lava-Jato ; fosse levado em conta, o total de votos sub judice subiria para mais de 170 milhões de votos. Votos, não eleitores, porque o paulista que votou em Aécio Neves para presidente, provavelmente votou em Alckmin para o governo estadual e em José Serra para o Senado.
;Essa situação é ruim porque aumenta o nível de descrédito da população brasileira com a democracia e as instituições;, lamentou o professor de Ciência Política da Unicamp Milton Lahuerta. Ele lembra que o desgaste não é atual e reforça a polarização no debate político, que se transformou em conflituoso e belicoso. ;No momento em que os atores políticos não são mais capazes de conduzir os fatos, os fatos passam a atropelar os agentes políticos;, afirmou.
Lahuerta acredita que a desqualificação da atividade política não ajuda a nossa incipiente democracia. E agrava os esforços dos eleitos para buscar a autosobrevivência. ;Você deixa de ter partidos e políticos com projetos claros de um país e passa a multiplicar legendas e candidatos preocupados com a autorreprodução;. Isso justificaria, segundo ele, a montagem de esquemas ilegais de financiamento eleitoral.