Jornal Correio Braziliense

Politica

Governo deixa a fiscalização de 21 frigoríficos para a segunda-feira

Só a partir de então, com a fiscalização em vigência, o Mapa vai informar quais lotes devem ter o consumo evitado e, portanto, deverão ser retirados dos supermercados



Os consumidores estão desprotegidos. Embora o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) garanta que os produtos produzidos por três plantas frigoríficas estão sendo recolhidos dos supermercados, outros com potencial risco de terem sido adulterados continuarão nos mercados pelo menos até segunda-feira. Esse é o dia que a pasta promoverá uma força-tarefa para fiscalizar e auditar as outras 21 plantas frigoríficas investigadas e suspeitas de colocarem nos supermercados carnes bovinas suspeitas de maquiagem com produtos químicos, como ácido sórbico.

[VIDEO1]

Só a partir de então, com a fiscalização em vigência, o Mapa vai informar quais lotes devem ter o consumo evitado e, portanto, deverão ser retirados dos supermercados. ;Nossa equipe está conectada com a Polícia Federal e o Ministério Público buscando mais informações. As informações estão sob sigilo. Só depois que as operações vêm à tona, conseguimos levantar dados para agir;, justificou o secretário-executivo do ministério, Eumar Novacki, sobre as ações que ocorrerão só na próxima semana.

O secretário minimizou a falta de celeridade nas ações do ministério e assegurou que continuará comprando os produtos nos supermercados. Para Novacki, o escândalo foi um ;fato isolado; e, portanto, a população pode ficar ;absolutamente tranquila;. ;Eu vou comprar carne. E vou ver se tem alguma irregularidade;, afirmou. Na avaliação dele, os consumidores devem sempre estar atentos a quaisquer ;irregularidades anormais; presentes em qualquer ;produto comestível;.

[SAIBAMAIS];Os produtos que chegam à mesa são de qualidade. Não fosse isso, não estaríamos presentes em mais de 150 países. Agora, desvios acontecem. Não posso penalizar toda a instituição de proteção sanitária por fatos isolados. Todas as instituições, por vezes, passam por problemas de conduta de servidores;, sustentou. Novacki destacou, no entanto, que o Mapa entregou à Casa Civil um novo regulamento de inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal considerado mais ;transparente;.

Interdição
Ainda ontem, o Mapa pediu a interdição e a suspensão da produção de alimentos em três plantas frigoríficas: uma da BRF, em Mineiros (GO), que produz carne de frango; outras duas da Peccin Agro Industrial, uma em Jaraguá do Sul (SC) e outra em Curitiba (PR), onde são produzidas salsichas e mortadelas. São os embutidos que mais preocupam os gerentes de supermercado, como Givanildo Aguiar. ;Diferentemente das carnes, são produtos que não temos como passar informações mais claras e precisas;, alertou. Em relação às carnes, Givanildo assegura que muitas das carnes vendidas no comércio são produzidas por frigoríficos autorizados de produtores locais. Mas alerta aos consumidores para observar o aspecto do alimento: ;Se tiver muito sangue, pode ser o caso de evitar;, disse.

A Operação Carne Fraca deixou muitos consumidores aflitos. O militar Marcos Diniz, 49 anos, lamenta a situação e avalia que a credibilidade dos envolvidos ficará em xeque. ;Fere a boa-fé do consumidor, porque nós acreditamos nos órgãos fiscalizadores;, disse. ;Antes mesmo das autoridades desbaratarem a operação, eu já não comprava carne das marcas envolvidas no escândalo. Para mim, já geravam desconfiança e falta de credibilidade;, afirmou a esteticista Cristiane Alves, 44 anos.

Farmacêutico e doutor em saúde pública, com especialidade em vigilância sanitária, Geraldo Lucchese diz que o ácido sórbico e o ascórbico, usados nos alimentos como forma de mascarar o aspecto podre, oferecem riscos e podem causar intoxicação se consumidos em grande quantidade. Mas Lucchese aponta como grande problema a possibilidade de contaminação por bactérias patogênicas presentes na carne devido ao seu estado de conservação. ;A operação aborda duas questões. Uma, pelo lado do risco das bactérias patogênicas, e a outra, pela fraude, pelo fato de o consumidor não consumir o que ele pensa que está;, afirma.

Integrante da diretoria executiva do Centro Brasileiro de Estudo em Saúde (Cebes), a médica sanitarista Ana Maria Costa afirma que, se há produtos contaminados, é uma situação muito grave. ;O consumidor tem o direito de comprar produtos com qualidade e direito de ter garantia de que tomem conta desses produtos colocados à venda no mercado;, afirmou.