Os depoimentos dos três executivos da Odebrecht ouvidos ontem pelo ministro relator do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Herman Benjamin, mostram um claro descompasso entre o que fala o ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht e os escalões posteriores da empreiteira. A maior divergência encontra-se no depoimento concedido pelo ex-diretor de relações institucionais, Cláudio Melo Filho.
Em seu depoimento ao TSE, Melo não apenas reiterou o jantar realizado no Palácio do Jaburu, com a presença dele, do então vice-presidente Michel Temer, de Eliseu Padilha e de Marcelo Odebrecht como afirmou que foi o empresário quem anunciou a Temer o valor que seria doado ao PMDB ; R$ 10 milhões.
Na semana passada, Marcelo disse que o jantar serviu para formalizar o apoio, mas que os valores foram tratados posteriormemte, entre Padilha e Melo Filho. Melo declarou ainda que ficou acertado, com a presença de todos, que R$ 6 milhões seriam destinados à campanha de Paulo Skaff ao governo de São Paulo e os outros R$ 4 milhões seriam usados em campanhas do PMDB.
Ficou acertado que um novo encontro aconteceria para definir como o montante seria repassado. Em nenhum momento, contudo, Melo Filho citou, em seu depoimento, os nomes do ex-assessor da Presidência José Yunes ou do doleiro Lúcio Bolonha Funaro.
A campanha do Skaff surge em outro depoimento, prestado pelo ex-diretor do setor de operações estruturadas, Hilberto Mascarenhas Silva. Hilberto declarou ter repassado, para a campanha do candidato ao governador de São Paulo, R$ 10 milhões por intermédio de Caixa 2. Deste total, R$ 6 milhões foram pagos durante a campanha e outros R$ 4 milhões, em um segundo momento, para o publicitário Duda Mendonça.
Hilberto também declarou que, entre 2006 e 2014, o seu setor, responsável por estruturar o pagamento de propinas pela empreiteira, movimento US$ 3,34 bilhões. Deste total, Hilberto acredita que 15% a 20% -- US$ 668 milhões, aproximadamente ; foram destinados para caixa 2 de diversas campanhas eleitorais, de todos os partidos. Os demais 80% foram usados para pagamentos de propina de obras da empreiteira no exterior, sobretudo em países africanos, como Angola.