Uma das operações policiais mais rumorosas da história política de Brasília, a Drácon completou seis meses. O Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal deve analisar em breve o recebimento da denúncia do Ministério Público do DF contra cinco deputados acusados de envolvimento num suposto esquema de venda de emendas. O prazo para apresentação das defesas já se esgotou e falta apenas a manifestação da Procuradoria-geral de Justiça do DF para que o processo seja analisado pelo Judiciário. Mas as apurações sobre o escândalo estão longe de terminar e muitos desdobramentos do episódio ainda estão por vir. Entre as dúvidas que pairam sobre a operação, está a participação de empresários e a suposta destruição de provas antes da deflagração da Drácon.
As conversas captadas em escutas ambientais instaladas nos gabinetes de três deputados distritais, Celina Leão (PPS), Cristiano Araújo (PSD) e Júlio César (PRB), também vão municiar novas frentes de investigação. Os áudios foram encaminhados ao Instituto de Criminalística da Polícia Civil do DF, para degravação dos diálogos, a pedido do desembargador José Divino, relator da denúncia, e do pedido de afastamento do cinco deputados de seus mandatos. O argumento do Ministério Público é de que os distritais usam o mandato na Câmara Legislativa e a CPI da Saúde para criar uma cortina de fumaça contra as acusações de aprovação de uma emenda parlamentar para pagar dívidas com empresas na área de UTIs em troca de propina.
Escutas
Nos dias subsequentes à operação, Celina encontrou-se com pessoas que teriam denúncias contra o deputado Chico Vigilante (PT) e contra o governador Rodrigo Rollemberg (PSB). No período em que as escutas gravavam nos gabinetes, Celina recebeu, por exemplo, Jefferson Rodrigues Filho, que invadiu e clonou o celular de Rollemberg em 2016 para se passar pelo chefe do Executivo local e conseguir benefícios. Numa conversa entre assessores da deputada, eles falam até em conseguir um emprego para Jefferson Filho, caso ele repassasse informações importantes sobre o socialista. Naquele dia, a equipe de Celina levou horas montando uma estrutura para gravar o diálogo com o hacker.
Inimizade
[SAIBAMAIS]A relação de inimizade com Vigilante também fica explicitada nas conversas. Além de tê-lo chamado de ;mentiroso;, ela recebeu a visita de uma ex-funcionária do parlamentar que teria denúncias contra ele.
Já Cristiano Araújo reclama, diversas vezes, que tem mais gente envolvida do que ele no esquema. ;Não tamo (sic) nem um terço do que nego tá enrolado;, diz. Em outro trecho, ele diz que será difícil encontrar um inocente na Câmara Legislativa: ;Vamos ser sinceros: ninguém aqui é virgem;.
Os áudios também mostram as articulações dele para escapar de uma possível cassação e até da prisão. A um assessor, ele relata um encontro com Leonardo Prudente, pai do distrital Rafael Prudente (PMDB) que, àquela época, era o corregedor da Casa.
Celina Leão garante que nunca teve a intenção de fabricar dossiês contra ninguém. ;Nunca fiz dossiê. Quem faz dossiê manda para os veículos da imprensa, coisa que nunca fiz;, afirma. Ela também diz que nunca procurou ninguém para buscar provas contra Rollemberg ou Vigilante. ;Não fui atrás de nenhum estelionatário. Ele veio ao meu gabinete. Como deputada, fiscal do povo, tenho a obrigação de receber a população que me procura. A denúncia foi devidamente registrada e encaminhada à Polícia Federal e ao Ministério Público;, disse. ;Quanto à assessora de Vigilante, também nunca a procurei. Fiz a gentileza de atendê-la em meu gabinete. Fiz o registro da presença dela à Polícia Legislativa e encaminhei cópia ao deputado;, garante.
Criatiano Araújo disse ao Correio não se lembrar de ter encontrado Leonardo Prudente. Sobre usar a CPI para atacar o governo, ele explicou que ;àquela época, estava em uma linha de enfrentamento com o governo, pela solicitação de demandas à população;.
Chico Vigilante reagiu com indignação às investigações de Celina Leão sobre sua carreira política e a vida de familiares. ;Essas gravações mostram que uma quadrilha investigada na Operação Drácon se instalou na Câmara e usou a política do gambá, que é tentar espalhar o fedor;, disse Vigilante.
A operação foi realizada em 23 de agosto de 2016 e atingiu a cúpula da Câmara Legislativa. A então presidente da Casa, Celina Leão, e os três secretários da Mesa Diretora, Bispo Renato (PR), Raimundo Ribeiro (PPS) e Júlio César, foram alvos de mandados de condução coercitiva e de busca e apreensão. Por determinação judicial, todos foram afastados dos cargos de direção na Casa. Além deles, Cristiano Araújo também teve que prestar depoimentos e acabou denunciado em decorrência do escândalo, assim como o ex-secretário-geral da Câmara Valério Neves.
;Nunca fiz dossiê. Quem faz dossiê manda para os veículos da imprensa, coisa que nunca fiz;
Celina Leão, deputada distrital (PPS)
;Uma quadrilha investigada na Operação Drácon se instalou na Câmara e usou a política do gambá, que é tentar espalhar o fedor;
Chico Vigilante, deputado distrital (PT)