Jornal Correio Braziliense

Politica

Planalto diz que operação contra Eike é restrita a políticos do RJ

Há a preocupação, no entanto, que o ex-ministro Geddel Vieira Lima seja citado

O Palácio do Planalto tenta circunscrever a crise da nova fase da Operação Lava-Jato, que decretou ontem a prisão do empresário Eike Batista, ao PMDB do Rio. A alegação é de que o empresário está sendo investigado pelas ligações que manteve com o ex-governador Sérgio Cabral e não por alguma conversa direta com o comando nacional ou algum integrante do primeiro escalão federal.

Há o temor, contudo, que, o aprofundamento das investigações da Operação Eficiência ; um desdobramento da Calicute ; volte-se para a Caixa Econômica Federal, banco com o qual Eike tinha uma ligação profunda. Caso isso aconteça, podem ser retomadas as pressões sobre o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, investigado na Operação Cui Bono, que significa ;a quem interessa?;.

Geddel é um dos peemedebistas mais próximos do presidente Michel Temer. Ao lado do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, do secretário do Programa de Parceria do Investimento (PPI), Wellington Moreira Franco, do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) e do ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, ele foi responsável pela chegada de Temer ao comando da legenda em 2001.

O Planalto e a cúpula peemedebista, próxima a Temer, lamentam a situação do aliado. A avaliação é de que, de todas as complicações enfrentadas por ele ao longo de tantos anos na política, a Operação Cui Bono é a mais grave de todas. O receio é de que, comprovadas as denúncias e as gravações de eventuais conversas dele com o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Geddel possa, inclusive, ser preso.

A avaliação, até o momento, é que o Planalto estaria mesmo protegido de algum abalo por diversos fatores. O principal deles é que Geddel não é mais ministro de Temer. Ele caiu após as declarações do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de que teria sido pressionado para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovasse a construção de um prédio em Salvador que feria os gabaritos locais.

Além disso, a Operação Eficiência, deflagrada ontem, é um desdobramento da Calicute, que é circunscrita ao Rio. Tanto que é conduzida pela Justiça Federal fluminense, não pela equipe do juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Aliados de Geddel garantem que o ex-ministro está muito chateado com os últimos acontecimentos, mas não veem riscos de que a operação de ontem possa prejudicar ainda mais o político baiano. ;Geddel não tem nada a ver com Eike. Mesmo que as investigações cheguem à Caixa Econômica Federal, não há problema. Geddel não era o único diretor, tinha uma diretoria colegiada que tomava diversas decisões em conjunto;, lembrou um correligionário.

Cientes de todos esses riscos, o governo tenta se distanciar dos peemedebistas fluminenses que estão às voltas com a Justiça, no caso Cunha e Cabral. Os dois representantes do PMDB do Rio no primeiro escalão do Executivo Federal evitam se pronunciar sobre o assunto: o ministro do Esporte, Leonardo Picciani e Moreira Franco.

Pezão

O Planalto também tomou outro cuidado: blindar as conversas feitas com o governo do Rio para renegociação das dívidas. Todas as tratativas foram feitas diretamente com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (leia mais na página 7). A cautela foi tomada mesmo sem descartar o aparecimento dele em algum desdobramento da Operação Eficiência. Pezão foi citado pelo próprio Cabral nos primeiros depoimentos dados após ser preso na Operação Calicute. Em novembro do ano passado, ele jogou no colo de Pezão a responsabilidade pela licitação da reforma do Maracanã, uma das obras investigadas.

O ex-governador alegou que, em todas as reuniões das quais participou com os empresários da Delta Engenharia, estava acompanhando de secretários de obras. O primeiro deles foi Pezão, que acabou substituído por Hudson Braga. Este último também foi preso pela Calicute. E havia sido Pezão quem lhe apresentou Hudson.

;Tocamos todos os projetos, assumo que toquei a obra do Maracanã e do Arco Metropolitano e tiramos do papel. Foi o primeiro estádio a ser aprovado por unanimidade no TCU. Então, tenho muita tranquilidade de discutir todas as nossas obras;, disse Pezão, em novembro, após reunião com Temer para tratar da divisão do montante derivado da repatriação dos recursos do exterior.