O e-mail foi encaminhado por Marcelo Odebrecht a diretores da empresa no dia 20 de dezembro de 2010, a 12 dias de Dilma tomar posse para seu mandato inicial como presidente.
Na mensagem, o ex-presidente da Odebrecht colou o conteúdo de um texto que enviaria a Palocci e no qual expressava seu interesse em ver Navarro no governo da petista.
"Chefe, (...) não sei se você conhece Luiz Navarro, secretário executivo da Controladoria-Geral da União. A pessoa dele comandou de forma efetiva a CGU, e penso que isso é reconhecido de dentro e de fora do órgão. Acho que vale a pena você recebê-lo para avaliar como ele poderia se ajustar em espaços do novo governo", diz a mensagem do empreiteiro incluída no e-mail aos diretores.
Dentre os destinatários do e-mail está o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho, um dos ex-executivos da empresa que fizeram delação premiada na Lava Jato. Em depoimentos, Melo Filho citou repasses para diversos políticos de vários partidos.
Ministro
Navarro foi mantido na secretaria executiva da CGU no governo Dilma. Em 2016, no segundo mandato da petista e já com o impeachment em curso, foi nomeado chefe do órgão que tinha status de ministério. Em maio do ano passado, na véspera de deixar o cargo, Dilma o nomeou conselheiro da Comissão de Ética da Presidência da República, posto em que ele ficará até 2019. O colegiado é responsável por instalar procedimentos para investigar a conduta de integrantes do Executivo. A comissão tem sete conselheiros, não remunerados.
O e-mail de Odebrecht com o pedido a Palocci ajudou a subsidiar o pedido de prisão do ex-ministro. Palocci foi detido em setembro, investigado por suas relações com a empreiteira. Ele é réu na Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Odebrecht está preso desde junho de 2015 e foi condenado no âmbito da operação.
Defesa
O advogado do ex-ministro Antonio Palocci, José Roberto Batochio, comentou a reportagem que mostra que o empreiteiro Marcelo Odebrecht pediu ao ex-ministro "espaços" no governo Dilma Rousseff para o então secretário executivo da Controladoria-Geral da União (CGU) Luiz Navarro.
Batochio afirmou que não há irregularidades em fazer indicações. "Acaso ponderações sobre indicação de funcionários a promoções ou ascensão na carreira passou a ser crime? Que democracia é esta em que membros de um governo estão condenados à mudez para não serem grampeados?", disse o defensor do ex-ministro.
Palocci foi preso em setembro do ano passado, em meio às negociações do acordo de delação premiada de executivos e ex-executivos da Odebrecht - ao todo, são 77 delatores ligados à empreiteira.
A operação que levou à prisão de Palocci - Omertà - investigou indícios da relação entre o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil (governos Lula e Dilma) com o comando da maior empreiteira do País. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, Palocci atuou como intermediário do PT perante a Odebrecht.
Acusação
De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República, Palocci atuou "em favor dos interesses do Grupo Odebrecht no exercício dos cargos de deputado federal, ministro da Casa Civil e membro do Conselho de Administração da Petrobras". A Lava Jato sustenta que Palocci teria recebido R$ 128 milhões do "departamento de propinas" da empreiteira, destinados não só a ele, mas ao PT e para o custeio de campanhas do partido.
Luiz Navarro, hoje conselheiro da Comissão de Ética da Presidência da República, não se manifestou até a conclusão desta reportagem. A Odebrecht disse que não comentaria o caso. Em nota, informou que colabora com a Justiça e está "implantando as melhores práticas de compliance, baseadas na ética, transparência e integridade"
Por Agência Estado