O ex-senador Gim Argello (ex-PTB-DF) ganhou R$ 2,8 milhões da Odebrecht em 2010 e 2014, quando ele ainda exercia o mandato, segundo o ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho. Cerca de 89% disso, ou R$ 2,5 milhões, foram em dinheiro vivo para ;Campari;, apelido usado para repassar subornos ao parlamentar. ;Não tenho como dizer se os pagamentos em dinheiro que foram realizados efetivamente foram utilizados por Gim Argello para fins eleitorais;, anotou Melo em documento prévio entregue ao Ministério Público para celebrar seu acordo de colaboração premiada com investigadores da Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR). Em 2010, o senador nem sequer era candidato; em 2014, arrecadou para outros políticos. ;Gim Argello buscava condições para formar uma base político-eleitoral e se candidatar a governador do Distrito Federal em eleição futura, cargo de grande relevância para os investimentos já realizados pela companhia.;
O ex-senador está preso no Paraná e foi condenado a 19 anos de detenção por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça, sob acusação de receber propina em forma de doações eleitorais a fim de proteger empreiteiros nas CPIs da Petrobras das quais participava. Ontem, seu advogado, Marcelo Bessa, afirmou ao Correio que não comentará as afirmações de Melo.
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[SAIBAMAIS]O delator contou que o dinheiro em espécie foi repassado pelo Setor de Operações Estruturadas. O órgão funcionava dentro da Odebrecht e centralizava o repasse de propinas em moeda corrente. Tudo era feito com a contabilidade em planilhas que relacionavam cada político a um apelido, uma obra, um endereço de entrega de valores e uma senha para ser usada ao emissário.
Nas duas eleições, o senador procurou Melo. ;As campanhas eleitorais foram o pretexto apresentado para que os pagamentos ocorressem.; Segundo o ex-diretor, Gim queria uma reunião com o presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht - também preso no Paraná ; para obter um pagamento ;diferenciado;. E conseguiu, de acordo com o delator.
Em 2010, Gim obteve três pagamentos de R$ 500 mil cada um entre julho e agosto. Todos foram entregues em espécie em São Paulo, um deles em uma casa no bairro Sumaré, perto do estádio do Pacaembu. ;Eu repassei a Gim a senha que ele deveria utilizar;, contou Melo. ;Recebi dele o endereço e a instrução de qual pessoa deveria ser procurada.;
Em 2014, foram pagos R$ 1,3 milhão, dos quais R$ 300 mil em doações a um candidato não identificado e R$ 250 mil ao PTB. O restante foi em espécie, por meio do setor de propinas. O repasse foi feito em setembro daquele ano.
Cláudio Melo foi denunciado junto com Marcelo Odebrecht, Gim, o empreiteiro da OAS Léo Pinheiro e outros investigados em Curitiba. Mas o juiz Sérgio Moro rejeitou a denúncia em relação aos dois primeiros. Ao explicar esses fatos, Melo afirma que a empreiteira foi procurada indiretamente por Gim, primeiro por Júlio Camargo, da Toyo Setal, e depois por Pinheiro.
Ele conta que participou de um almoço na casa de Gim. Lá, ficou esperando a chegada do então senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) ; hoje ministro do Tribunal de Contas da União, investigado na Lava-Jato, mas que nega também as suspeitas de recebimento de propinas. ;Ambos os ex-parlamentares explicaram que o propósito da CPMI não era prejudicar a imagem das empresas e que, na medida do possível, procurariam conduzir as investigações sem exageros;, contou Melo. No entanto, ele disse que não ouviu ;qualquer pedido de apoio ilícito;.
Melo entende que Gim deu uma ;contrapartida; à Odebrecht quando inseriu uma emenda na Medida Provisória 599, editada em 2012. A mudança no texto era do interesse da empreiteira.
Dinheiro para Campari
Gim recebeu 89% dos valores em espécie, de acordo com delator
Data Valor Tipo
22/07/2010 R$ 500 mil Em espécie
19/08/2010 R$ 500 mil Em espécie
27/08/2010 R$ 500 mil Em espécie
12/09/2014 R$ 250 mil Doação oficial ao PTB
15/09/2014 R$ 50 mil Doação oficial a candidato*
Setembro/2014 R$ 1 milhão Doação oficial a candidato*
Total R$ 2,8 milhões
*Doação relacionada a candidato não identificado cujo recibo eleitoral é 001440500000DF000021.
Fonte: Cláudio Melo Filho
Presidente do TCE-RJ na mira
A Polícia Federal realizou a operação Descontrole, que apurou possíveis crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro praticados pelo presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio de Janeiro, Jonas Lopes. Quarenta policiais federais cumpriram 10 mandados de busca e apreensão e três mandados de condução coercitiva expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Lopes foi um dos levados de forma coercitiva para depor na PF. De acordo com delação do executivo Leandro Andrade, da Odebrecht, ele teria pedido dinheiro para aprovar o edital de concessão do Maracanã e as contas da linha 4 do metrô do Rio.