O ex-líder do PT no Senado Delcídio Amaral confirmou nesta segunda-feira (21/11), ao juiz federal Sérgio Moro que existia uma "estrutura montada" no governo Luiz Inácio Lula da Silva para "bancar as estruturas partidárias" e que o ex-presidente "tinha um conhecimento absoluto de todos os interesses que rodeavam a gestão da Petrobras".
"O presidente não entrava nos detalhes, mas ele tinha um conhecimento absoluto de todos os interesses que rodeavam a gestão da Petrobras e as diretorias e os partidos que apoiavam os diretores", afirmou Delcídio, ao juiz da Lava Jato, em Curitiba, ao falar sobre o grau de ingerência de Lula no esquema de propinas na Petrobras.
Delcídio foi a primeira testemunha de acusação no processo contra Lula, dona Marisa Letícia e outros seis réus, no primeiro processo da Lava Jato, em Curitiba, contra o petista. Também são acusados o ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, funcionários da empreiteira e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
"Sem dúvida nenhuma existia uma estratégia montada para bancar as estruturas partidárias", afirmou Delcídio, ao ser questionado pelo procurador da República Diogo Castor de Mattos, sobre a arrecadação de propinas por partidos via diretores indicados na Petrobras.
Citou os tesoureiros do PT como responsáveis por operar as propinas do partido, entre eles Delúbio Soares e João Vaccari Neto - ambos presos pela Lava Jato.
O ex-líder no Senado afirmou que nunca teve uma reunião com Lula sobre o esquema de arrecadação, mas afirmou que ele tinha "conhecimento absoluto" no esquema de loteamento político das diretorias da Petrobras, entre partidos da base aliada. O esquema rendia propinas de 1% a 3% para os agentes públicos indicados e políticos - um rombo de mais de R$ 40 bilhões entre 2004 e 2014.
A defesa de Lula questionou se ele tinha provas de que Lula estaria envolvido com propinas. Ele afirmou ter conhecimento, como líder do governo. "Eu sabia tudo o que acontecia no governo".
As acusações contra Lula são relativas ao recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira OAS por meio de um triplex no Guarujá, no litoral de São Paulo, e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, mantidos pela Granero de 2011 a 2016.
O petista é acusado corrupção passiva e lavagem de dinheiro no esquema de cartel e propinas na Petrobras. A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que ele recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio - de um valor de R$ 87 milhões de corrupção - da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012.
Delator
Delcídio - preso em novembro de 2015 e colocado em prisão domiciliar em fevereiro - virou delator da Lava Jato. Ele foi ouvido pelos investigadores nos procedimentos preparatórios de denúncias contra Lula. Ele foi executivo da Petrobras, ministro de Minas e Energia do governo Itamar Franco e senador. Em 2006, ele foi candidato ao governo do Estado do Mato Grosso do Sul, pelo PT.
No depoimento, Delcídio contou sobre o esquema de distribuição de cargos no governo Lula e o papel decisivo do escândalo mensalão, a partir de 2005, para formação da sistemática descoberta pela Lava Jato - de loteamento de cargos estratégicos no governo entre partidos da base, para arrecadação de propinas e garantia da "governabilidade e base sólida" no Congresso.
Nos pós-mensalão, Delcídio afirmou que a Petrobras foi usada para composição de governo. Questionado pelo procurador da República Diogo Castor de Mattos sobre a indicação de Paulo Roberto Costa, o primeiro ex-executivo da estatal a fazer acordo de delação premiada, no esquema de corrupção descoberto na Lava Jato.
"Paulo Roberto Costa não foi diretor, quando começou o governo Lula, ele era diretor da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. a TBG, depois com o aumento da participação, da importância do PP dentro da base governamental, aí ele foi guindado a diretor de Abastecimento", explicou o ex-senador.
Paulo Roberto Costa é também testemunha de acusação no processo contra Lula. Sua audiência está marcada para a quarta-feira, 23. No dia, serão ouvidos ainda outros três delatores, o ex-deputado Pedro Correa, e os ex-executivos da Petrobras Nestor Cerveró (Internacional) e Pedro Barusco (Engenharia).
Tucano
Preso em novembro, tentando comprar o silêncio do ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, Delcídio era homem de confiança do governo Dilma Rousseff e tinha vindo do governo Fernando Henrique Cardoso.
"Na época, a Diretoria de Abastecimento era ocupada por um indicado do governo anterior, o Rogério Manso. Quando sai e entra o Paulo Roberto Costa, indicado pelo PP dentro dessa rearrumação do governo", explicou o delator.
"Qual foi o motivo da saída de Rogério Manso", perguntou o procurador.
"Aparentemente, havia uma identificação, ou o que se dizia à época, era que ele era muito identificado com o governo anterior, que ele era tucano e, consequentemente, precisava ser substituído. E assim foi feito."
O ex-presidente é investigado pela Procuradoria ainda por receber como "benesses" das empreiteiras do cartel, que atuava na Petrobras, em reformas do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP) e por meio de doações ao Instituto Lula e pagamentos para a empresa de palestras do petistas, a LILS Palestras e Eventos.
Defesa
O criminalista Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Lula, nega que o petista seja o dono do apartamento do Edifício Solaris. Ele nega qualquer envolvimento do cliente com esquema de corrupção ou lavagem de dinheiro.
Por Agência Estado