Após uma disputa tensa na capital gaúcha no segundo turno, com troca de críticas e acusações do início ao fim, o prefeito eleito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), disse neste domingo (30) que vai passar por cima das diferenças eleitorais e conversar com todos os partidos que puderem "contribuir para fazer as mudanças que a sociedade porto-alegrense deseja". O tucano não terá maioria na Câmara Municipal. Sua coligação elegeu 5 vereadores dos 36 que a cidade tem no total. Já a coligação de Sebastião Melo (PMB), seu adversário, elegeu 17.
"Todos nos incomodamos com algumas inverdades que foram de alguma forma foram usadas com a finalidade de vencer uma eleição Porto Alegre está acima de problemas pessoais. Nós vamos conversar institucionalmente com todos os partidos", afirmou. No seu pronunciamento, ao reconhecer a derrota, Melo disse que fará uma "oposição responsável".
Marchezan se elegeu com 60,50% dos votos válidos, contra 39,50% de Melo. O tucano chegou ao seu comitê de campanha por volta das 17h40, quando a apuração já indicava sua vitória. Na entrevista coletiva, reforçou o discurso da mudança adotado durante toda a campanha. Disse que pretende enxugar a máquina pública, o que incluirá cortar secretarias e cargos de confiança.
"Não vamos começar analisando 37 secretarias e pensar quantas vamos diminuir. Vamos começar de zero secretaria e analisar quantas serão necessárias", afirmou, destacando que o mesmo raciocínio valerá para os cargos de confiança. "Não vou partir de mil. Vou começar de zero e ver quantos são necessários para fazer uma boa gestão." Marchezan também disse que vai mudar praticamente todas as pessoas que hoje integram a estrutura da prefeitura de José Fortunati (PDT). "Mesmo quem permanecer será realocado se for competente para permanecer."
Segundo o tucano, por governar em tempos de crise e com menos recursos, aumentar impostos está descartado. Ele não detalhou quais serão suas primeiras propostas a serem implementadas, mas destacou, como já fez na campanha, que as áreas prioritárias de seu governo serão segurança pública, saúde e geração de empregos
Marchezan ainda disse que não pretende se licenciar da Câmara dos Deputados este ano para conduzir a transição de governo em Porto Alegre. "Se eu fizer isso o Rio Grande do Sul fica com um deputado a menos. Vou aproveitar meu mandato até o fim do ano para estabelecer uma ponte com o governo federal", afirmou.
O deputado será o primeiro prefeito do PSDB em Porto Alegre. O partido não tem tradição política na cidade. A candidatura teve a chancela do presidente nacional da legenda, Aécio Neves, que nomeou o deputado federal para presidir o PSDB no Rio Grande do Sul em 2015 e deu carta branca para que ele se lançasse na disputa. Mas, na metade deste ano, Marchezan hesitou, com medo de que a candidatura não ganhasse corpo. A situação mudou com o apoio do PP, que indicou o vice, Gustavo Paim. Na coletiva, Marchezan agradeceu às lideranças do PP no Estado.
Nelson Marchezan Júnior tem 44 anos e nasceu em Porto Alegre. Formado em Direito, exerceu a profissão antes de mergulhar na atividade parlamentar. Foi deputado estadual entre 2007 e 2011. Hoje está em seu segundo mandato seguido como deputado federal pelo PSDB. Nesse sentido, seguiu os passos do pai, o ex-deputado Nelson Marchezan (1938-2002), que pertenceu à Arena e chegou a presidir a Câmara dos Deputados.
Tensão
O tucano venceu uma eleição muito acirrada em Porto Alegre. Ele começou correndo por fora na disputa por uma vaga no segundo turno. Foi crescendo ao longo da campanha e surpreendeu ao terminar a votação de 2 de outubro em primeiro lugar, com 29,84% dos votos, à frente do atual vice-prefeito, Sebastião Melo, com 25,93%. A partir daí, todas as pesquisas de segundo turno mostraram Marchezan mantendo a liderança.
Em desvantagem, Melo subiu o tom das críticas ao adversário no segundo turno, tanto nas inserções de rádio e televisão, como nas entrevistas e debates. O peemedebista tratou de desqualificar a candidatura do tucano. Também fez parte da estratégia do PMDB gaúcho vincular Marchezan a grupos de direita, com o Movimento Brasil Livre (MBL), que participou das manifestações pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff.
O clima tenso da campanha gerou reflexos na Justiça Eleitoral. Foram pelo menos dez ações ajuizadas - a maioria de autoria da equipe de Marchezan. Entre os dias 15 e 17 de outubro, uma série de fatos abalou as candidaturas.
Na madrugada do dia 16 para 17, vidraças do comitê de Marchezan foram estilhaçadas. A campanha tucana tratou o episódio como um ataque a tiros que poderia ter motivação eleitoral. Esta semana, no entanto, a Polícia Federal apontou que os danos foram causados por uma forte ventania. Melo aproveitou para chamar o tucano de mentiroso. O fato mais marcante, no entanto, aconteceu no dia 17, quando um dos coordenadores da campanha do PMDB, Plínio Zalewski, foi encontrado morto na sede do partido. A Polícia Civil trata o episódio como suicídio.
Marchezan saiu candidato com uma coligação que reunia PSDB, PP, PMB e PTC. No segundo turno, conseguiu também o apoio da chapa liderada pelo PTB. A maior crítica de Melo ao tucano se refere ao fato de ele se apresentar como uma candidatura de oposição, que representa a mudança, apesar de seu partido ter integrado a administração municipal até o fim do ano passado. Além disso, o seu coordenador de campanha, Kevin Krieger, do PP, chegou a ser líder do governo na Câmara Municipal.