O candidato do PHS à prefeitura de Belo Horizonte (MG), Alexandre Kalil, foi eleito neste domingo. Com 100% dos votos apurados, ele tinha 52,98% dos votos válidos e não podia mais ser superado pelo candidato do PSDB, João Leite, que tinha 47,02% dos votos. Com 100% dos votos apurados, a abstenção na capital mineira foi de 22,77%. Dos 1.488.488 de eleitores que compareceram às urnas, 4,85% votaram em branco e 15,52% anularam o voto.
Após chegar ao segundo turno com apenas 20 segundos na TV e o bordão "chega de políticos", o empresário Alexandre Kalil, de 57 anos, do nanico PHS, foi às urnas neste domingo, 30, em Belo Horizonte com o apoio envergonhado do PT e da esquerda mineira. O objetivo da "coalizão" era derrotar João Leite, de 61 anos, candidato do PSDB, e seu padrinho, o senador Aécio Neves.
O engajamento não é declarado, mas a preferência é nítida. "A postura oficial do PT é não apoiar nenhum candidato, mas a maioria dos eleitores petistas vota contra o PSDB. O sentimento na base é antitucano", disse à reportagem o deputado estadual Rogério Correia (PT), um dos principais líderes do governador Fernando Pimentel, também do PT, na Assembleia Legislativa.
Questionado sobre sua opção pessoal, Correia desconversou: "A votação é na urna".
O PCdoB, por sua vez, chegou a anunciar o apoio formal, mas recuou por causa da repercussão negativa. A legenda apoiou Reginaldo Lopes (PT) no primeiro turno. A articulação em torno de Kalil impediria a reorganização do grupo político de Aécio, que perdeu o governo estadual em 2014. Durante a campanha no segundo turno, Kalil desdenhou do apoio do PT e até chegou a mandar o partido "para o inferno" em um dos debates, mas concentrou mesmo sua estratégia em atacar diariamente Aécio no rádio e na TV.
Até os tucanos reconhecem que a imagem do senador, que foi governador do Estado por dois mandatos e pretende disputar o Palácio do Planalto em 2018, está desgastada na própria base eleitoral. Vale lembrar que em 2014, Aécio perdeu para Dilma Rousseff em Minas no segundo turno (52,4% a 47,6%). No primeiro turno e em quase todo o segundo, ele não apareceu no horário eleitoral do afilhado político.
Só nos últimos dias Aécio gravou um depoimento, mas foi para se defender dos ataque de Kalil. O arsenal foi da citação de delatores na Operação Lava Jato a discursos ligando o sucesso em Belo Horizonte ao projeto de poder do tucano em 2018.
A opção de "esconder" o principal articulador da campanha causou um racha interno. "Não temos motivo para escondê-lo. Nosso marqueteiro errou ao demorar para usar o Aécio na TV. Foi um erro de estratégia", disse o deputado federal Domingos Sávio, presidente do PSDB mineiro. Por meio de nota, a assessoria de João Leite afirmou que Aécio participou "ativamente" da campanha
No debate da TV Globo, o tema surgiu com força anteontem. Kalil perguntou ao adversário se Aécio era referência moral. "A referência moral da minha vida é meu pai e minha mãe, que você xingou na campanha. Minha referência é Deus", respondeu João Leite, sem citar o nome do senador. Na tréplica, Kalil voltou à carga. "Ele não entendeu nada. Eu falei do Aécio, que veio do Rio para fazer a campanha dele."
Para não entrar na defensiva, a campanha de João Leite passou a tentar colar o "petismo" no candidato do PHS. "A candidatura do Kalil está toda estruturada no PT, das lideranças envolvidas ao material de rua, tudo é derivado de grupos ligados ao PT. Quem chamou o que houve no Brasil de golpe está lá com o Kalil. Todos que foram contra o impeachment estão com eles. Ele está no bloco do PT, mas tenta esconder isso por estratégia", disse Sávio. Procurado, Kalil não se pronunciou.
Como "prova material" da ligação com petistas, os tucanos citam Paulo Lamac, candidato a vice de Kalil. Hoje filiado à Rede, ele foi do PT até o ano passado e é um dos mais atuantes deputados da base de Pimentel.
Além do apoio informal de aliados de Pimentel, Kalil teve ainda na retaguarda de campanha o empresário Vittorio Medioli, um dos homens mais ricos do País. Eleito no primeiro turno prefeito de Betim, Medioli comanda o PHS, partido de Kalil. Ele é dono do Grupo Sada, um conglomerado que reúne diversas empresas, e também da Sempre Editora, dos jornais O Tempo e Super Notícias, um tabloide que chega a superar qualquer jornal do País em tiragem. Medioli foi filiado ao PV e ao PSDB, mas rompeu com Aécio para lançar carreira próprio na política mineira.