postado em 11/10/2016 13:51
O lobista Marcel Júlio afirmou em delação premiada à Procuradoria-Geral de Justiça que o deputado Fernando Capzez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, recebeu R$ 450 mil para sua campanha à reeleição em 2014. Em troca, o tucano teria intercedido em favor da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), acusada pelo Ministério Público de fraudar licitações da merenda em dezenas de prefeituras e que mirava ainda contratos da Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB).A integra da delação de Marcel Júlio foi divulgada pelo repórter Walace Lara, no "SPTV Segunda Edição" da Rede Globo desta segunda-feira, 10. São 23 páginas de relato prestado a um procurador de Justiça, a três promotores e a um delegado da Polícia Civil do Estado. O depoimento do lobista foi tomado no dia 1; de abril. Marcel contou que, em 2014, foi procurado pelo presidente da cooperativa, Cássio Chebabi. Segundo o delator, Chebabi lhe disse que a Coaf venceu chamada da Secretaria da Educação do Estado para um contrato de R$ 10 milhões.
O lobista procurou, então, Licá Gutierrez, assessor de Capez, no escritório político do parlamentar à Rua Tumiaru, perto da Assembleia. Ele contou que uma vez foi atendido pelo próprio tucano. Marcel Júlio afirma que o deputado, à sua frente, ligou para o então chefe de gabinete da Educação de Alckmin, Fernando Padula, e foi informado que o edital havia sido cancelado por erro da secretaria.
[SAIBAMAIS]Ainda segundo o lobista, Capez "esfregou indicador e polegar das duas mãos, rindo". "Não esquece de mim, hein, estou sofrendo em campanha", teria dito o presidente da Assembleia Legislativa. Para o lobista, o gesto de Capez significava que ele "queria dinheiro". Duas semanas depois, Jéter Rodrigues, que também trabalhava com Capez, o chamou no gabinete do deputado, na Assembleia. Segundo Marcel Júlio, o assessor lhe disse que precisava de carros para a campanha de Capez. E que depois de uma nova chamada da Educação, em 21 de agosto daquele ano, Jéter o chamou e disse. "Agora, precisamos falar em valores."
Segundo Marcel, o acerto foi fechado, 2% do valor do contrato para Jéter e R$ 450 mil para a campanha de Capez. Ele diz ter ouvido uma advertência: se não honrasse o combinado, os pagamentos do Estado seriam "bloqueados". Um dos pagamentos, ele afirmou, no valor de R$ 20 mil, foi realizado dentro da Assembleia Legislativa a um assessor de Capez.
Defesa
O deputado Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, nega taxativamente ter recebido valores ilícitos da organização criminosa que fraudava licitações da merenda escolar.
Quando a Operação Alba Branca foi deflagrada e seu nome citado nas investigações, o próprio parlamentar abriu mão espontaneamente do sigilo bancário e fiscal. "Essa delação é de abril, foi requentada. No último depoimento ao Tribunal de Justiça ele (Marcel Júlio) diz que jamais tratou de dinheiro comigo, e que nem tinha intimidade para tanto. E mais, este trecho da delação não foi confirmado por nenhuma testemunha. Além disso, (Fernando) Padula diz que jamais recebeu ligação minha", disse o deputado.