A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção. Para a PF, há sinais do pagamento de propina de R$ 31 milhões pela Odebrecht, via contrato da empreiteira com uma empresa de Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho por parte da primeira mulher de Lula, já falecida. O dinheiro tinha origem em obra que a construtora executa em Angola, na África. O inquérito faz parte de um grupo de investigações que levanta a suspeita de que Lula praticou tráfico de influência internacional em favor da empresa, a fim de que ela obtivesse contratos no exterior com apoio de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ontem, o petista rechaçou as acusações constantes na apuração policial. Em depoimento à PF, Lula disse que ;não chegou a tratar, em nenhum momento, nem quando era presidente ou depois, das relações comerciais vinculadas a Taiguara;. O relatório da polícia trata da Operação Janus. Ele foi entregue na terça-feira ao Ministério Público. O documento indicia o petista; Taiguara; um sócio dele e sete executivos da Odebrecht, entre eles Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba na Operação Lava-Jato. ;Os indiciados, na medida de suas participações, poderão responder pelos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro;, afirma o comunicado da polícia.
[SAIBAMAIS]Agora, a Procuradoria da República no Distrito Federal vai analisar as conclusões dos delegados, agentes e analistas a fim de decidir se oferece denúncia contra os suspeitos, se determina o arquivamento da apuração ou se pede mais investigações para esclarecer pontos obscuros do caso. O Ministério Público não tem prazo para fazer essa avaliação.
De acordo com a polícia, as provas foram recolhidas ao longo de 10 meses. Os papéis e depoimentos demonstrariam que a Odebrecht pagou R$ 20 milhões (R$ 31 milhões em valores atualizados) à empresa Exergia, de Taiguara. ;Esse pagamento ocorreu sem a devida prestação dos serviços de engenharia em empreendimentos de infraestrutura financiados pelo BNDES em Angola;, informa comunicado da PF.
Cópias
No inquérito, os policiais recolheram mensagens apreendidas no celular de Taiguara enviadas para um segurança do ex-presidente Lula ; que não utiliza telefone móvel próprio, mas de seus assessores, conforme revelaram grampos autorizados pela Justiça na Operação Lava-Jato. Nelas, o dono da Exergia trata de contratos com a Odebrecht e de pagamentos. Entretanto, ontem, os advogados do petista, Cristiano Zanin e Roberto Teixeira, foram categóricos em reproduzir declarações do próprio Lula à PF em 13 de setembro, negando participação dele em assuntos comerciais do sobrinho. ;Taiguara não chegou a conversar com o declarante sobre a criação da empresa Exergia Brasil;, acrescentou o petista, de acordo com a oitiva.
A investigação contra Lula em relação a negócios da Odebrecht no exterior é ampla. O inquérito sobre o caso de Angola, porém, é o mais avançado. Um dos integrantes do caso avalia que não é possível acreditar, ao menos num primeiro momento, que palestras feitas pelo petista fora do Brasil fossem pagamentos de propina em troca de pressão para que a empreiteira ganhasse obras mundo afora. Para esse investigador, o método de subcontratação com contratos fictícios entre a Odebrecht e outras empresas tem mais lógica com os valores transacionados entre os governos estrangeiros e a construtora. A assessoria da empreiteira não comentou o caso. O Correio não localizou a defesa de Taiguara.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.