Até as situações de risco são relativizadas, por conta da volatilidade do eleitorado e da insegurança diante das pesquisas divulgadas até o momento. Em São Paulo, por exemplo, o candidato do PT à reeleição, Fernando Haddad, apareceu em quarto lugar nos últimos levantamentos. Mas os chamados trackings ; pesquisas telefônicas feitas pelas assessorias das candidaturas ; mostra o petista embolado com Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB) na disputa e de que enfrentará João Doria (PSDB) em uma nova rodada de votações no último domingo de outubro.
;Quem tem a máquina nas mãos tem mais chances de se reeleger, pois controla agenda pública e pauta a mídia com ações governamentais;, afirmou o professor de ciência política da Universidade de Brasília Ricardo Caldas. Para ele, esta campanha municipal, pela sua especificidade, provocou situações ambíguas e, até certo ponto, contraditórias. ;Temos candidatos favorecidos pela máquina, como ACM Neto (DEM) em Salvador, e outros completamente outsiders, como João Doria, em São Paulo;, completou.
Dos quatro candidatos com chances expressivas de decidirem a eleição já no primeiro turno, três têm situações políticas locais estabelecidas e um está amparado pelos caciques regionais. ACM Neto (DEM-BA), Teresa Surita (PMDB-AC) e Marcus Alexandre (PT-AC) estão no primeiro caso. Neto, inclusive, já faz campanha pensando na eleição de 2018 quando, provavelmente, concorrerá ao governo da Bahia. Teresa é ex-mulher do senador Romero Jucá. Já Marcus Alexandre ; o único petista com chances reais de vitória em uma eleição para prefeito de capital ; é apoiado pelos irmãos Jorge e Tião Viana, que há décadas dão as cartas políticas no estado.
O pedetista Carlos Eduardo Alves, por sua vez, vem amparado pelas duas principais oligarquias do Rio Grande do Norte, que se juntaram para lhe garantir a vitória em primeiro turno em Natal: os clãs Alves, composto pelo senador Garibaldi Alves (PMDB) e pelo ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves; e Maia, representado pelo presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia.
Curiosamente, até mesmo os nomes que centralizam o que se chama de antipolítica têm alguma força da máquina por trás de si. É o caso, por exemplo, do candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, João Doria Júnior. Em todos os discursos ; seja em caminhadas ou no horário eleitoral ;, ele faz questão de reforçar que é um gestor diferente de tudo que existe aí. Mas Doria chegou lá com o apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que brigou com todo o tucanato paulista para garantir a candidatura de seu pupilo.
O fato foi explorado pela candidata do PMDB, Marta Suplicy, no debate realizado na última quinta-feira. ;Vocês sabem que, toda vez que um ;poste; é eleito, dá errado. Aconteceu com Pitta (Celso Pitta, eleito prefeito de São Paulo com o apoio de Paulo Maluf); Fernando Haddad (eleito prefeito de São Paulo com o apoio de Lula) e com Dilma Rousseff (eleita presidente da República com o apoio do mesmo Lula);, criticou a neopeemedebista.
Pesquisas
Entre os candidatos à reeleição com situação mais delicada, um deles ; Gustavo Fruet (PDT-PR) ; enfrenta uma situação curiosa. Em 2012, para se eleger prefeito de Curitiba, ele saiu do PSDB, legenda pela qual teve atuação destacada ao longo da CPI dos Correios, e seguiu para o PDT. Era um gesto de revolta contra o governador Beto Richa, que lhe negava espaço para disputar a prefeitura. Paradoxalmente, o caminho de ambos se encontrou novamente este ano: Richa apoia o líder nas pesquisas de intenção de voto, Rafael Greca (PMN).
O professor de ciência política do Insper, Carlos Melo, acredita que o desgaste de quem está no poder ; verificado em todas as pesquisas qualitativas sobre a classe política ; ainda está em vigor e atingiu, sobretudo, o PT. ;Tirando Rio Branco, onde mais o PT ou candidatos apoiados diretamente por ele estão em condições vantajosas na disputa?;, questionou ele. Até mesmo o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, na visão de Melo, se conseguir chegar ao segundo turno, o fará mais pelos seus méritos do que pela força do partido. ;Temos que destacar que Haddad foi um prefeito que não temeu adotar atitudes corretas baseado em noções de popularidade;, defendeu.
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