"Foi Deus que fez que, ao mesmo tempo, várias pessoas percebessem o que estava acontecendo no país", acrescentou esta advogada em seus argumentos para provar que a primeira mulher a presidir o Brasil violou a Constituição ao manipular as contas públicas e que, por isso, deve deixar a presidência.
Mas o advogado de defesa da presidente, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, destacou que uma destituição de Dilma Rousseff seria "uma pena de morte política". "Canalhas, canalhas, canalhas", criticou o senador Roberto Requião, do PMDB-PR, defensor de Dilma, que fez alusão ao golpe de Estado contra João Goulart em 1964.
A sessão do Senado foi encerrada por volta das 02H30 desta quarta-feira, após mais de 14 horas de discursos de senadores, e os trabalhos serão retomados às 11H00 para a votação final. Em São Paulo, centenas de manifestantes protestaram contra o impeachment e voltaram a enfrentar a polícia, que deteve quatro pessoas.
Legitimidade
"Dilma vai entrar para a História como uma figura ambígua: será vista como uma vilã do ponto de vista da gestão, foi uma governante ruim, que errou muito, que não soube dialogar com o Congresso, que é responsável, em parte, pela economia e tudo isto será atribuído a ela", afirmou à AFP Michael Mohallem, analista da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
"Também vai haver uma leitura sobre o processo em si, que foi usado instrumentalmente para favorecer um grupo político, para levar Michel Temer e o PMDB ao poder de um modo não tão legítimo como seriam as urnas", acrescentou. Os escândalos atingem toda a classe política e a elite brasileira, tanto de esquerda quanto de direita.
E neste julgamento político emergiram, mais do que nunca, as perguntas sobre a legitimidade que este Senado pode ter para emitir um veredicto, quando mais da metade dos seus membros estão envolvidos ou investigados por casos de corrupção.