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Brasil e Dilma Rousseff ante uma sentença histórica no país

Se o impeachment for aprovado, será um final inesperado para a primeira mulher a chegar à presidência brasileira, depois de ter sido suspensa em maio sob acusações de maquiar as contas públicas para assegurar sua reeleição em 2014



"Foi Deus que fez que, ao mesmo tempo, várias pessoas percebessem o que estava acontecendo no país", acrescentou esta advogada em seus argumentos para provar que a primeira mulher a presidir o Brasil violou a Constituição ao manipular as contas públicas e que, por isso, deve deixar a presidência.

Mas o advogado de defesa da presidente, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, destacou que uma destituição de Dilma Rousseff seria "uma pena de morte política". "Canalhas, canalhas, canalhas", criticou o senador Roberto Requião, do PMDB-PR, defensor de Dilma, que fez alusão ao golpe de Estado contra João Goulart em 1964.

A sessão do Senado foi encerrada por volta das 02H30 desta quarta-feira, após mais de 14 horas de discursos de senadores, e os trabalhos serão retomados às 11H00 para a votação final. Em São Paulo, centenas de manifestantes protestaram contra o impeachment e voltaram a enfrentar a polícia, que deteve quatro pessoas.

Legitimidade

"Dilma vai entrar para a História como uma figura ambígua: será vista como uma vilã do ponto de vista da gestão, foi uma governante ruim, que errou muito, que não soube dialogar com o Congresso, que é responsável, em parte, pela economia e tudo isto será atribuído a ela", afirmou à AFP Michael Mohallem, analista da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.

"Também vai haver uma leitura sobre o processo em si, que foi usado instrumentalmente para favorecer um grupo político, para levar Michel Temer e o PMDB ao poder de um modo não tão legítimo como seriam as urnas", acrescentou. Os escândalos atingem toda a classe política e a elite brasileira, tanto de esquerda quanto de direita.

E neste julgamento político emergiram, mais do que nunca, as perguntas sobre a legitimidade que este Senado pode ter para emitir um veredicto, quando mais da metade dos seus membros estão envolvidos ou investigados por casos de corrupção.