Ontem, dia em que a petista discursou a seu julgadores no Congresso Nacional, a vida seguiu tranquila nas ruas da capital federal, centro da política brasileira. Fora do plenário e da Esplanada, com exceção da interdição de vias, Brasília manteve sua rotina inalterada, dividida entre aqueles que pelo rádio ou tevê tomavam pé da situação do país e entre os que consideravam que a segunda-feira era apenas mais um dia. Porém, em meio ao cotidiano, seu Pedro lembra que se trata de momento histórico. ;Temos que acompanhar. É um dever cívico, porque somos brasileiros. Espero que o Brasil melhore com Dilma ou sem Dilma;, afirma o aposentado, que votou na petista e não se arrependeu.
De costas para a televisão, entre uma jogada e outra do game Mortal Combat, o auxiliar administrativo Fernando Santana, 23, comenta que, para ele, não faz mais sentido acompanhar o julgamento. ;Sou contra o impeachment e sei que ela vai sair. Então acho besteira acompanhar;, reforça o rapaz. Ele chegou a ir a duas manifestações na época da votação do processo de afastamento pela Câmara dos Deputados e acredita que não há mais como reverter a aprovação do impeachment.
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Ao lado do Conic, na rodoviária de Brasília, entre o vaivém de ônibus e passageiros, algumas pessoas assistem à televisão penduradas na pilastra. Ilusão pensar ser a transmissão da sessão de defesa de Dilma no Senado. As atenções estão todas voltadas para o filme ;A fada do dente;, exibido ontem na Sessão da Tarde, da TV Globo. ;Não acompanho nada de política;, justificou o trabalhador do Ceasa Israel Agostinho, 32.
O tema, no entanto, é interesse do gesseiro Reinaldo Borges, 32. À espera do coletivo, ele não larga o celular, sintonizado na Rádio Senado. ;Comecei a saber mais de política agora com o impeachment. Não é novela, é real o que estamos vivendo;, afirma o gesseiro, que não se convenceu com o discurso da presidente. ;Achei muito decorado, sempre a mesma coisa, com respostas que não convencem;, critica.
Apenas cinco quilômetros separam a invasão CCBB, no Setor de Clubes, onde mora o catador de material reciclável Emílio Luiz da Silva, 64, e o Senado. Mesmo atento à política, no início da tarde, ele ainda não havia se inteirado sobre o julgamento de Dilma. ;Saí às 6h para catar material. Às 10h, voltei pra casa. Minha esposa está cega por causa da diabetes e tenho que acompanhar. Não deu para saber ainda;, na torcida pela permanência de Dilma.
Mais próxima ainda do centro nevrálgico da política estava a estudante de comunicação Laís Braz, 28, recém-chegada de um intercâmbio no Canadá. Com o braço esticado, ela tentava enquadrar na selfie seu rosto emoldurado pelo Congresso Nacional ao fundo. A imagem cruzou fronteiras e foi enviada para amigos que ela fez no exterior. Questionada se iria contar ao grupo sobre os acontecimentos dentro do Senado, Laís não escondeu a sinceridade. ;Nem estava lembrando que a Dilma ia lá hoje, mas agora vou comentar com eles;, confessa.
Descrédito
No Objeto Encontrado, um dos cafés mais politizados de Brasília, na Asa Norte, a sessão de julgamento de Dilma não provocou mudanças na programação do estabelecimento. ;Cheguei a pensar em pôr no rádio do café a transmissão do Senado;, contou um dos sócios, Lucas Silva Hamu, 27, que desistiu da ideia. ;O último momento de engajamento foi na votação na Câmara. Depois disso, todo mundo que entende como golpe sofreu muito emocionalmente;, completou. Hamu chegou a acompanhar a sessão pela manhã, quando ainda estava fora do trabalho, e pretendia se unir aos manifestantes contrários ao impeachment na Esplanada à noite.
;Temos que acompanhar. É um dever cívico, porque somos brasileiros. Espero que o Brasil melhore com Dilma ou sem Dilma;
Pedro Silva, aposentado
;Comecei a saber mais de política agora com o impeachment. Não é novela, é real o que estamos vivendo. Achei muito decorado sempre a mesma coisa, com respostas que não convencem;
Reinaldo Borges, gesseiro