Não vai ser fácil para ninguém, mas deve ser um tanto pior para quem vai encarar uma urna eletrônica pela primeira vez. Nas próximas eleições, mais de 2 milhões de jovens, entre 16 e 17 anos ou recém-chegados à maioridade, estarão aptos ao voto. Trata-se de uma geração que cresceu sob governos petistas, que se acostumou com uma certa calmaria econômica, que aprendeu a discutir sexualidade e liberdades individuais sem travas, que mergulhou em seus próprios smartphones e participou da revolução das redes sociais.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, divulgou na segunda-feira (25/7) os dados oficiais sobre as eleições municipais de 2016. O Brasil tem hoje 144.088.912 de eleitores aptos a votar no próximo dia 2 de outubro. Os que têm 16 e 17 anos correspondem 1,6% do total (2,3 milhões). O número é inferior ao registrado nas eleições de 2012, de 2,4 milhões, e à série história, que teve seu pico em 1994 (2,34% do total de eleitores).
Mas como estará o espírito e a cabeça desse jovem estreante? É preciso considerar o caldo em que esse eleitor está sendo forjado, um caldeirão em que se misturam Operação Lava Jato, processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, governo interino de Michel Temer, ocupações das escolas estaduais e muito mais.
Interesse
Quatro alunos do Colégio Singular, de Santo André, na Grande São Paulo, foram convidados a debater o futuro eleitoral: Júlio Brito, de 17 anos; Renata Santana, 17; Caio Franquini, 17; e Julia Fugiwara, 16. Os garotos se mostraram pouco animados ou interessados no processo eleitoral. Por outro lado, as garotas aparentaram ansiedade e vontade de participar formalmente (por meio do voto) de uma eleição.
[SAIBAMAIS]Sobre a importância do título de eleitor, por exemplo, Brito diz que "não tinha tido tempo de correr atrás disso" e Caio afirmou que "prefere se concentrar nos estudos para o vestibular".
Renata e Julia, pelo contrário, não querem esperar e devem votar para prefeito e vereador nas eleições de outubro. Julia, por participar do primeiro coletivo feminista da escola, é a mais animada: "Às vezes ouço meus pais falarem do tempo do governo Fernando Henrique, do (Fernando) Collor, do Itamar (Franco). Acho que as coisas eram diferentes. Muita coisa melhorou. Outras pioraram."
Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político da FGV-SP, considera que esse eleitor de primeira viagem chega "contaminado pela polarização atual". "Chega no meio desse debate político que é muito raso, um debate que está convocando o eleitor a participar de um ;ser ou não ser;", afirma.
Invariavelmente, os estudantes apontam as redes sociais como sendo a principal fonte de informação. De acordo com dados do Instituto de Imprensa Norte-americano e da Associated Press-Norc Center for Public Affairs Research, cerca de 88% dos usuários consomem regularmente notícias a partir das redes sociais. Cerca de 47% leem notícias sobre política nacional a partir do Facebook.
O cientista político Pedro Fassoni Arruda, da PUC-SP, diz que falar em "voto jovem" como bloco é um erro. "Tem o recorte de idade, grau de escolaridade, sexo, cor da pele, se é de periferia, se é de bairro nobre, se estuda em um colégio Dante ou Bandeirantes..."
Quando a reportagem ouviu estudantes da periferia da mesma idade, encontrou mais participação política e engajamento em projetos comunitários, mas pouca gente disposta a tirar título de eleitor ou a fim de participar de uma forma mais institucional.
"Política é todo dia. A gente faz muita coisa social, ajuda muitas famílias. Tenho grupo da igreja, tenho grupo na escola, mas votar, votar mesmo, acho que posso deixar pra quando for obrigatório", afirma Rogério Motta Cruz, de 17 anos, aluno de uma escola estadual na zona leste de São Paulo.
Para a antropóloga Isabela Oliveira Pereira da Silva, o voto não é a única forma de participação - e uma parcela desse eleitorado percebeu isso. "Essa é uma geração que vai atuar de outro jeito " As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.