No dia seguinte à sua eleição, o seu pai, César Maia criticou a articulação do governo e atribuiu a Geddel um erro político por ter apoiado o Cunha.
Eu discordo do meu pai. O Geddel queria um nome de consenso. O nome da preferência dele, 15 dias antes, era o Rosso. Mas, quando o processo afunilou, eu não vi nele um adversário à minha pretensão. No segundo momento, quando ele viu que tinha o risco de o Marcelo Castro ir para o segundo turno, o governo passou a trabalhar, claramente, para as duas candidaturas. Como eu consegui unificar minha base melhor do que a do Rogério, eu fui beneficiado por isso. Mas até três dias antes, havia a preferência do governo por uma composição pelo centrão.
Rogério Rosso ficou marcado como um candidato pró-Cunha, mas o senhor sempre foi um aliado dele também.
Eu ter sido preterido na liderança do governo ; e ter sido atropelado pelos aliados do Eduardo ; mostrou para o plenário qual era a minha relação com o Eduardo, uma relação tática. Tínhamos o completo interesse de derrotar o PT e depois, com base no crime de responsabilidade, construir o impeachment da presidente Dilma. Acho que a decisão da liderança deixou claro que a relação era essa, até porque, no Rio, sempre fomos adversários.
E as CPIs da Lei Rouanet e do Carf?
A da Rouanet já está para ser instalada, o (Waldir) Maranhão colocou para eleger os componentes. Como ele arquivou uma, deu sequência na outra. Em relação ao Carf, os deputados estão pedindo um prazo maior para apresentar o relatório, para continuar a fase de oitiva. Estou consultando os líderes e não estou vendo apoio para essa decisão.
Como serão tratados temas como desarmamento, aborto, estatuto da família?
Eu acho que temos pautas mais importantes neste momento. Se temas de valores como esses forem colocados no jogo, nós vamos gerar uma perturbação, reviver o radicalismo e perder a oportunidade de avançar em pautas que, neste momento, são mais importantes para a superação da crise.
Dá pra se dizer que, nesta gestão, a bancada chamada de ;BBB: Bala, Bíblia e Boi; perde espaço?
Não é que eles perdem espaço, eles têm uma bancada forte e unida, mas eles também estão na base do governo. Eles entendem, acredito eu, que há uma agenda para superar a crise. Eles têm eleitores e, neste momento, eleitores estão perdendo renda ou estão desempregados e acho que, o tema dos valores, neste momento não vai resolver o desemprego, a redução das taxas de juros, a melhoria da renda, a questão do investimento no setor privado.
O senhor é a favor da volta do financiamento privado de campanha?
Eu votei a favor do financiamento privado, mas não há clima neste momento para se tratar desse tema. Eu acho que cabe uma coisa coletiva, não é só o financiamento, é o sistema. O problema do financiamento está em campanhas caras, então temos que construir um sistema onde a despesa seja reduzida. É preciso rever o sistema, não adianta olhar a receita sem olhar a despesa. Todo mundo está com medo de vincular seu nome à política. A vedação ao financiamento privado tira o caixa 2 de pessoa jurídica do rol de crime eleitoral, passa a ser corrupção passiva e ninguém vai brincar com isso. Do meu ponto de vista, não tem encaminhamento para isso, acho que essa eleição de 2016 vai ser o caos. Precisamos sentar todos os partidos e organizar um consenso mínimo no sistema eleitoral, não só aprovar o fim das coligações. Para reduzir o número de partidos, nós precisamos criar um sistema que fale melhor com a sociedade e que tenha um custo menor.
O que representa a volta do DEM a um cargo estratégico, ainda que seja por sete ou oito meses?
Representa que nós fizemos as apostas certas. Acreditar que nós podemos apostar em partidos ideológicos no Brasil, que tenham lado, que tenham ideiais, que sejam de centro-direita e que, por esse motivo, sejam respeitados pela sociedade e pelo parlamento. O nosso compromisso com aquilo que acreditamos e que representamos nos últimos 13 anos sendo uma oposição dura ao PT nos gerou a condição de ter o voto da esquerda nestas eleições. Eles querem um partido da base, mas por que escolheram o partido como o DEM? Porque eles consideram confiável. Eles escolheram um partido da oposição que nunca foi governo e nunca mudou de lado, até para cumprir acordos e respeitar o espaço da minoria.
Durante sua gestão, o presidente Lula acabou implodindo vários nomes do DEM. O senhor acha que a presidente Dilma deu a chance de vocês ressurgirem?
Pelas declarações públicas, o Lula tinha uma relação péssima com o PFL e patrocinou a derrota de muitos candidatos importantes ao Senado. E você vê que, nesse processo todo de término do impedimento da presidente Dilma Rousseff, o próprio PT caminha para colaborar com a vitória de um deputado que, em tese, tinha uma posição contrária no passado. Eles passaram a ter uma prioridade nessas eleições diferente das outras, que era derrotar aqueles que foram vitais para o impeachment, isto ficou claro. E escolheram, dentro da antiga oposição, alguém que é cumpridor de acordo e que não vai isolar o PT, o PCdoB ou o PDT na gestão da Casa.
A direita no país sempre foi identificada pelo lado conservador das causas e não como liberal na economia...
Eu acho que aumentou muito a participação de políticos de direita neste plenário, não só do DEM. A bancada da bala, da Bíblia e do boi é, em tese, uma bancada de direita. O lado conservador é o que dá votos. O eleitor é conservador. O lado liberal na economia não era popular até agora, mas vai passar a ser. O caos gerado pela presidente Dilma vai dar condição aos partidos que são liberais na economia a oportunidade de vocalizar o que significa a irresponsabilidade fiscal na vida das pessoas.
Corre o risco desta peste ir para a esquerda após esses 13 anos de governo?
Eu acho que, se tivermos 30% da competência do PT em vocalizar, iremos mostrar claramente que o que aconteceu nos últimos anos gerou 14 milhões de desempregados, estados quase falidos com atraso de pagamento de servidores, redução no investimento e aumento da violência. Então, se tivermos essa competência, acho que será um bom momento para se mostrar que o equilíbrio fiscal é uma peça fundamental para o desenvolvimento de qualquer país.