Para Dilma, no Brasil o "golpe" visa a assegurar "uma pauta que não foi e não será aprovada sem que passe pelo crivo do voto popular", disse. Ela ainda acrescentou que, diante da crise, o governo tem um conflito distributivo, de definir para onde vai o dinheiro. Segundo Dilma, é uma "temeridade" achar que o dinheiro garantido para a população ou que políticas feitas são intocáveis.
Segundo Dilma, a disputa sobre o dinheiro público se dá em relação à ação do Estado como um processo de garantia de direitos individuais e coletivos como interferência na ordem econômica. Ainda de acordo com ela, por trás do "golpe" no Brasil há uma ambição muito forte pelo parlamentarismo.
Dilma voltou a se defender das acusações de ter cometido crime de responsabilidade. "Isso já está ficando chato porque não só o Senado, como a comissão de perícia que a Comissão do Impeachment nomeou, diz que não há crime de responsabilidade. E na semana passada o Ministério Público Federal disse que não se caracteriza irregularidade em pedaladas. Se for, todos os presidentes anteriores a mim serão responsabilizados", disse.
Dilma voltou a dizer que no Orçamento Público do governo interino de Michel Temer não há previsão de crescimento nos gastos com Saúde e Educação. Ela criticou o que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, enumerou de planos A, B e C para a solução do problema fiscal. De acordo com ela, os planos do governo visam a cortar gastos, privatizar, mas não deixa claro de onde virá o aumento de arrecadação porque não fala que terá de aumentar impostos.
Inflação, juros e câmbio
Dilma disse ainda que, caso volte à Presidência da República, seu governo irá tratar da relação entre inflação, juros altos e taxa de câmbio. Ela não detalhou como pretende fazer isso. Apenas disse que "temos que tratar a relação no Brasil entre inflação, taxa de juro e taxa de câmbio. Temos que tratar essa tríade porque em 2013 reduzimos a taxa de juros a seu menor valor em toda a historia do Brasil e não conseguimos manter".
O menor patamar da taxa Selic foi registrado entre o final de 2012 e o início de 2013, quando o governo Dilma, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), reduziu os juros a 7,25% ao ano. A medida foi duramente criticada pelo mercado que viu na decisão uma porta de entrada para o galope inflacionário.
"Eu posso explicar em algum momento no futuro por que é difícil manter a taxa de juros nesse patamar e a redução dos spreads bancários sem haver, por parte da população, uma compreensão e um processo de desindexação", disse Dilma. Ela reconheceu que depois de ter reduzido a Selic a seu menor patamar histórico, gerou-se no País uma "profunda" pressão inflacionária. "Não é possível a queda da taxa de juros com a inflação elevada. Nós vamos ter que encarar as duas coisas", disse.
No entanto, ela refutou a tese de que a inflação no País resulta da decisão do governo de indexar o salário mínimo à variação do PIB de dois anos atrás e à inflação do ano anterior.