Na denúncia criminal em que acusa Gim Argello e outros oito investigados de arquitetar um esquema de pagamento de ao menos R$ 5,3 milhões em propinas de empresas para evitar a convocação de empreiteiros investigados na Lava-Jato para depor nas CPIs no Senado e no Congresso em 2014, a Procuradoria dedica um trecho do documento à relação entre o padre e o ex-senador. Os investigadores apontam que o padre Moacir Anastácio "é o responsável por promover a festa religiosa denominada ;Festa de Pentecostes;, em Taguatinga/DF, que arregimenta milhões de pessoas".
"Na referida festa de Pentecostes, Moacir Anastácio, notadamente, em época das eleições, como no caso do escrutínio de 2014, enaltece a figura de candidatos políticos, e, foi nessa ocasião, que promoveu a imagem de Gim Argello, alcunhando-o de Senador de Pentecostes. A proximidade de Gim Argello com o Padre Moacir Anastácio se corrobora pela existência de pelo menos 58 ligações telefônicas, no período de 19 de março de 2014 a 26 de agosto de 2014", destacaram os procuradores na denúncia.
A acusação afirma que Gim Argello "ocultou e dissimulou os recursos ilícitos oriundos da OAS para dar aparência lícita ao repasse da propina, mediante transferência para a Paróquia São Pedro para obter benefícios na promoção de sua imagem junto aos fiéis do Padre Moacir Anastácio". Gim Argello foi preso em abril na 28; fase da operação.
Além da OAS, a Paróquia São Pedro recebeu "doação" da Construtora Andrade Gutierrez no valor de R$ 300 mil em 4 de junho de 2014 "por intermediação espontânea" do então governador do DF Agnelo Queiroz (PT/2011-2015). A igreja destacou que também "recebeu doações" da Construtora Via Engenharia, "todas contabilizadas e à disposição das autoridades".
Em depoimento, em 14 de abril deste ano, o ex-assessor parlamentar Valério Neves Campos, suspeito de operar pagamento de propinas em forma de doação eleitoral para os partidos da coligação de Gim Argello em 2014, DEM, PR, PMN e PRTB, prestou depoimento à Polícia Federal. Valério Campos afirmou que "nunca foi" a qualquer evento religioso do padre e "não o conhece pessoalmente".
A reportagem ligou para o celular do padre Moacir Anastácio e para a Paróquia São Pedro, mas não teve retorno.