Por ordem do Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (1;/7) a Operação "Sépsis", nova fase da Lava-Jato. Os 20 mandados estão sendo cumpridos em Brasília e três estados a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR). A polícia prendeu o doleiro Lúcio Funaro ; amigo do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O lobista Myton Lira foi alvo de busca e apreensão em Brasília, no Lago Sul.
Os agentes também fizeram buscas nos endereços do presidente do conselho de administração da JBS e diretor-presidente da J, Joesley Batista, e na Eldorado Celulose, que é subsidiária da J. A JBS, que também é subsidiária da J, não foi alvo de buscas.
Preso em São Paulo, Funaro será levado à Polícia Federal em Brasília. Se for seguido o padrão de detenções na capital, o doleiro deverá ser encaminhado ao presídio do Complexo Penitenciário da Papuda.
O mandado de prisão e os 19 de busca e apreensão foram ordenados pelo ministro-relator Lava-Jato no Supremo, Teori Zavascki. São 12 ordens de busca em São Paulo, duas no Rio de Janeiro, três em Pernambuco e duas em Brasília.
Uma das bases da ação de hoje é a colaboração premiada do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto. Ele contou aos investigadores que pagava propina para Cunha para liberar recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS) em favor de obras de empreiteiras.
Fábio Cleto foi alvo da operação da última fase da Lava-Jato ordenada pelo STF, a Catilinárias, em 15 de dezembro. Cinco dias antes, foi demitido da Caixa por ordem da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT). Na ocasião, a PF fez buscas contra Eduardo Cunha.
Outra base da Operação é a delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Hypermarcas Nelson Mello. Ele afirmou que pagou R$ 30 milhões em propinas a senadores para facilitar o mercado do grupo empresarial. Os beneficiários seriam o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os senadores Eduardo Braga (PMDB-AM) e Romero Jucá (PMDB-RR) ; todos negam a denúncia dele.
O doleiro Lúcio Funaro é suspeito de achacar grandes empresas em parceria do parlamentar. Ele nega a acusação e diz que não tem mais amizade com o presidente afastado da Câmara. A PGR também apontou Funaro como beneficiário de negócios no setor elétrico feitos por Eduardo Cunha a partir de modificações de Medidas Provisórias no Congresso,
como mostrou o Correio Uma das buscas aconteceu na casa do empreiteiro Marcos Roberto Moura Dubeux, de Pernambuco. Ele é presidente da empresa Cone, do grupo de construtora Moura Dubeux, uma das maiores do estado. Outro alvo é o pai dele, Marcos José Dubeaux, da empreiteira Moura Dubeaux.
Delação anteriorFunaro foi um dos poucos a fazer, já no mensalão, acordo de colaboração premiada com os investigadores. Em 2012, o STF condenou 25 pessoas, como o ex-ministro do governo Lula José Dirceu, parlamentares, banqueiros e o publicitário Marcos Valério por montarem um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo recursos do Banco do Brasil e de empresas para garantir apoio político no Congresso.
A delação de Funaro foi acompanhada da de José Carlos Batista. Os dois foram absolvidos por colaborar com a apuração. A PGR disse que, em 2002 e em 2003, a dupla se associou ao ex- deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP). "Criaram estrutura criminosa voltada à ocultação, dissimulação e movimentação de recursos oriundos de crimes contra a administração", afirmou o Ministério Público.
Na Lava-Jato, o STF ordenou ainda ordenou a prisão do então senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), em novembro, e a Operação ;Politeia;, em julho de 2015, quando foram feitas buscas relacionadas a senadores, como Fernando Collor (PTB-AL).
O nome Sépsis se refere a infecção generalizada, segundo a Polícia Federal. Isso ocorre quando ;um agente infeccioso afeta mais de um órgão;. A Lava-Jato começou investigando doleiros, passou a apurar negócios de empreiteiras com a Petrobras e já descobriu fraudes e corrupção envolvendo a Eletrobrás, Caixa Econômica e ministérios.
Sem renúnciaA prisão de Funaro complica politicamente a situação de Eduardo Cunha, que deve ser julgado no plenário da Câmara em um processo de cassação de seu mandato vinculado à Operação Lava-Jato. Ele tem negado as acusações e diz que não vai renunciar ao cargo ou à Presidência da Câmara. ;E mais uma vez reafirmo que não irei renunciar;, disse ele na quinta-feira em uma conta em rede social. Nesta sexta-feira, o Correio não conseguiu contato com o deputado.
A JBS Friboi se limitou a dizer que não era alvo das ações. A assessoria disse que repassaria os contatos da reportagem à Eldorado Celulose, mas a firma ligada à JBS não prestou nenhum esclarecimento. A assessoria de Joesley Batista não atendeu as ligações do
Correio.
O advogado de Funaro, Daniel Gerber, disse que ainda não obteve cópia da investigação, que ainda vai ser pedida ao Supremo. ;Vamos analisar a situação;, disse ao jornal. ;A partir de segunda-feira, é que as medidas cabíveis serão adotadas.;
A Hypermarcas reiterou hoje que fez auditoria em que constatou que Nelson Mello realizou pagamentos, por iniciativa própria, ;sem as devidas comprovações das prestações dos serviços;. Por isso, o ex-executivo fez acordo com a empresa para devolver os gastos feitos por ele. A firma reafirmou que não é investigada na Operação Lava-Jato, que não se beneficiou dos pagamentos feitos por Mello e que ;reprova veementemente; atos em desacordo com seu código de ética.
Os demais alvos da Sépsis não foram localizados.
A Operação SépsisPolícia Federal cumpre 20 mandados ordenados pelo Supremo
Uma prisão preventiva
Lúcio Bolonha Funaro, detido em São Paulo
19 buscas e apreensões
Joesley Batista, dono da JBS Friboi, grupo alimentício em São Paulo
Eldorado Celulose, empresa da mesma controladora da JBS Friboi
Mylton Lira, lobista, em Brasília
Marcos Roberto e Marcos José Dubeaux, empresários, em Recife
Henrique Constantino, empresário
CidadesSão Paulo: 10 mandados de busca e apreensão e 1 de prisão preventiva
Sorocaba (SP): 1
Lins (SP): 1
Brasília (DF): 2
Rio de Janeiro: 2
Recife (PE): 3