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Dilma viaja, ministros criticam e oposição monta contra-ataque

Às vésperas da viagem da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos para uma conferência das Nações Unidas em que pretende chamar de "golpe" o processo de impeachment, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) rebateram o argumento da mandatária. Decano da Corte, o ministro Celso de Mello disse que a afirmação é "um grande equívoco". A posição do magistrado deu munição à oposição e ao PMDB, que trabalham para contestar a possível fala de Dilma sobre a tentativa de um golpe no Brasil ao exterior. Dilma viaja hoje a Nova Iorque e voltará no sábado. Na ausência, é Temer quem assume a Presidência. A oposição já montou o contra-ataque a Dilma.

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Segundo o ex-ministro Eliseu Padilha, braço direito de Temer, em conversa com jornalistas nesta quarta-feira (20/4), que senador Aloysio Nunes, estaria em Nova Iorque para conversar com lideranças dos Estados Unidos sobre o processo no Brasil, já trabalha para mostrar às agências de notícias internacionais que o próprio STF discorda do argumento da presidente. Padilha imprimiu e balançava cópia de matérias de jornal destacando a fala de Mello durante a conversa. ;Estão vendo? Não somos nós que estamos falando. É o Supremo". As mesmas matérias também estão na bagagem de Aloysio, segundo informou o ex-ministro. "Quem leva e traz notícias são as agências de notícias e estamos trabalhando neste sentido. Nós podemos trabalhar com as agências. Hoje está falando o Jucá, o Michel não vai falar nada", disse Padilha.

Para somar forças ao tucano, os deputados José Aleluia (DEM/BA) e Luiz Lauro Filho (PSB/SP) também vão aos EUA como observadores da Câmara. Segundo a assessoria de Cunha, os próprios deputados solicitam a missão, mas neste caso, eles vão a pedido do presidente da Casa. O objetivo será também distribuir a nota dos partidos rebatendo Dilma.

Paralelamente, o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR) já deu início a um esforço para propagar o discurso de defesa a partir do Brasil. O parlamentar já tem programadas entrevistas e deve continuar com a estratégia na semana que vem. Em um terceiro front, o partido Solidariedade entrou com ação civil pública contra a viagem de Dilma.

O ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República, Jaques Wagner, criticou a iniciativa da oposição e defendeu a ida de Dilma aos EUA. "A oposição já falou muito mal do Brasil lá fora. Dilma vai defender o país e dizer o que está acontecendo. É o mundo que constata a artificialidade do golpe no Brasil;.

Para Wagner, Dilma sequer terá de abordar o assunto por conta própria, que ele será introduzido pelos jornalistas locais. ;Ela será perguntada sobre momento político atual, e não poderá deixar de manifestar sua indignação com o golpe que se está se construindo no Brasil. Dilma é uma mulher honesta que não cometeu nenhum crime, e o que está havendo no país é o mau uso do impeachment".

Nos Estados Unidos, a mandatária aproveitará a visibilidade e o peso da imprensa internacional para esboçar uma defesa de seu mandato. A ideia é evitar falar de golpe durante os três minutos de discurso na cerimônia e focar levar a cabo a estratégia de atribuir aos defensores do impeachment a pecha de golpistas durante entrevistas coletivas após o evento.

Mais cedo, o ministro Celso de Mello classificou como uma posição pessoal de Dilma a afirmação de golpe, e disse ser "estranho" ela usar um palanque internacional para falar sobre o assunto. "É um gravíssimo equívoco falar-se em golpe;, disse. ;É um grande equívoco reduzir-se o procedimento constitucional do impeachment a figura do golpe de Estado. Agora, há um equívoco quando afirma que há um golpe parlamentar, ao contrário", destacou.

Já o ministro Gilmar Mendes cobrou "responsabilidade" no processo. "Eu não sou assessor da presidente e não posso aconselhá-la, mas todos nós que temos acompanhado esse complexo procedimento no Brasil podemos avaliar que se trata de procedimentos absolutamente normais, dentro do quadro de institucionalidade", disse.

Na mesma linha, o ministro Dias Toffoli avaliou que é preciso ter cuidado com o uso inadequado para a expressão ;golpe; não prejudicar a imagem do Brasil lá fora. "Alegar que há um golpe em andamento é uma ofensa às instituições brasileiras, e isso pode ter reflexos ruins inclusive no exterior porque isso passa uma imagem ruim do Brasil;, disse, em entrevista à rede Globo. ;Eu penso que uma atuação responsável é fazer a defesa e respeitar as instituições brasileiras e levar uma imagem positiva do Brasil para o mundo todo, que é uma democracia sólida, que funciona e que suas instituições são responsáveis", concluiu.

Novo governo
O vice-presidente Michel Temer reuniu-se na tarde de ontem com sua tropa de choque, composta pelos ex-ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima e o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR). A reunião contou com a participação do economista e ex-ministro Delfim Netto. Animado após o encontro, Delfim falou: "Acho que o Brasil vai encontrar seu caminho;.

Padilha destacou que, para que isso ocorra, o governo Temer terá de se basear em dois pilares: ajuste fiscal e reaquecimento da economia. "Tomaremos as medidas necessárias, que não serão as mais agradáveis no momento, mas serão as que agradarão as próximas gerações", disse.

Com a ida de Dilma ao exterior, Temer assume interinamente a presidência. Segundo a sua assessoria, ele ficará em São Paulo, onde vive. Não está descartada, porém, uma viagem a Brasília para encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), quando deve ser debatido o impeachment, como antecipado ontem pelo Correio.