Em troca desses repasses os empresários Ricardo Pessoa, da UTC, e Léo Pinheiro, da OAS, não foram chamados para dar explicações às duas CPIs. Em nenhuma das duas comissões houve convocação dos empresários para depor. Em seu depoimento, o delator diz que ele, Argello e Léo Pinheiro buscaram outras empreiteiras para relatar a cobrança, mas não deu mais detalhes sobre como a situação foi tratadas por elas: Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Engevix.
Nesse novo depoimento, realizado na quinta, 14, Júlio Camargo citou três encontros com Gim Argello e outros empreiteiros após a instalação das duas CPIs. Segundo o delator, a preocupação com as comissões fez os empreiteiros investigados se articularem, organizados pelo ex-presidente da OAS Léo Pinheiro. Com isso, ele e Léo Pinheiro participaram da primeira reunião com o então senador, em Brasília.
"Gim Argello disse que a intenção não era ir contra os empresários, mas contra as pessoas das Petrobras envolvidas em processos irregulares da empresa; que Gim Argello disse que chamaria todo o setor e pediu a Léo Pinheiro e ao depoente para avisar a alguns dos empreiteiros", afirmou o delator. Então, ele e Léo Pinheiro teriam ficado responsáveis por avisar as outras empresas sobre a demanda que, no primeiro encontro ainda não estava clara que se tratava de propina e o próprio Léo Pinheiro teria comentado.
"Léo Pinheiro, mais experiente que o depoente, perguntou se teria que haver pagamento de propina, disfarçada em contribuição política; que Gim Argello disse que deixassem esse assunto para a próxima reunião", disse.
No segundo encontro, contudo, o ex-senador teria sido mais direto e dito que tinha a ;missão; de cobrar R$ 5 milhões dos empresários. "Gim Argello disse que não queria pressionar o empresariado, mas que aproveitaria a CPI para arrecadar contribuições, pois estava próximo das eleições; que Gim Argello disse que essa era uma missão que tinha recebido, um ;pepino;, que Gim Argello disse que queria R$ 5 milhões por empresa", relatou o lobista. O senador ainda teria deixado claro em outra ocasião que quem não pagasse a propina seria convocado.
Na época conselheiro da Toyo Setal junto com Augusto Mendonça Neto, outro delator da Lava Jato, Júlio Camargo disse aos investigadores que sua empresa era menor e não tinha condição de arcar com os R$ 5 milhões e , por isso, teria negociado uma redução para R$ 2 milhões, que foi informada a Argello em uma terceira reunião. Os repasses, então, teriam sido acertados via doações oficiais da Toyo Setal, junto com Paulo Roxo e Valério Neves, suspeitos de operarem os pagamentos a mando de Argello e que foram soltos nesta sexta-feira, 15.
A defesa da OAS não comentou o caso. A Andrade Gutierrez já firmou um acordo de delação premiada, homologado pelo Supremo Tribunal Federal e que está sob sigilo. A Odebrecht anunciou que busca fazer o que chamou de ;colaboração definitiva;, mas oficialmente o Ministério Público Federal informa que as negociações com a empreiteira não avançaram. A empresa não quis comentar o caso. A reportagem tentou contato telefônico com a assessoria da Queiroz Galvão, mas ninguém atendeu.
A defesa de Gim Argello informou que não comenta investigações em andamento.
Em nota, a assessoria da Engevix afirma que "todas as informações pertinentes ao caso foram prestadas às autoridades responsáveis pelas investigações".