Os ânimos exaltados se limitaram aos discursos inflamados na tribuna do plenário da Câmara dos Deputados. O clima, no Congresso Nacional e arredores, foi muito tranquilo neste sábado. Até demais. Os ambulantes que apostaram em grande público e boas vendas tiveram prejuízo, enquanto os policiais, que esperavam um dia agitado, não tiveram muito trabalho.
A movimentação, raríssima em pleno sábado, ficou por conta dos deputados e seus assessores, dos jornalistas e do enorme batalhão de seguranças. No gramado em frente ao espelho d;água, apartado pelo muro, nenhum manifestante de lado algum, mas nos internamente, o corre-corre foi grande. ;Só vi o Congresso assim num sábado em duas ocasiões: a Constituinte e o impeachment do Collor;, contou Francisco Raimundo, de 58 anos, funcionário da Câmara há 30 anos.
Nos arredores do Congresso, no entanto, reinou a tranquilidade. Na opinião da produtora de eventos Cris Botelho, de 40 anos, o muro afastou as pessoas. ;Tem gente acampada no Parque da Cidade, outros em próximos do Mané Garrincha. Ninguém quis o enfrentamento nos gramados hoje por causa da repercussão negativa deste muro. Mas espero que o povo venha em massa domingo para evitar esse golpe contra a democracia;, avaliou ela, que circulava pela S2, próximo ao anexo II da Câmara dos Deputados.
Mineiros
Para um grupo de mineiros que lotou quatro ônibus em Belo Horizonte e chegou ontem à capital federal, a expectativa é de que a concentração de manifestante seja maior à noite. ;Nosso grupo está acampado no estacionamento 12 do Parque da Cidade, mas vamos ocupar o gramado à noite, para fazer uma vigília até amanhã;, disse o estudante Marcos Reis, de 22 anos.
A família Bacha, também de Minas Gerais, contratou um guia turístico para aproveitar a manifestação patriótica e conhecer a capital federal. Estavam encantados com a organização da cidade. ;Circulamos livremente por vários pontos. Encontramos até governistas na Catedral e não houve confronto algum;, disse o empresário César Bacha, de 52 anos. Ele, a esposa Simone e o filho Caio lamentaram o muro da vergonha. ;O PT provocou a polarização e criou esse clima;, afirmou César.
Prejuízo
A falta de público acabou com as pretensões dos ambulantes, que amargaram prejuízo. O comerciante Davi Santos, 40, que trabalha de segunda a sexta, em frente ao Anexo IV da Câmara, e vende, e média, 60 refeições por dia, resolveu arriscar e perdeu dinheiro. ;Falaram em 300 mil pessoas na Esplanada. Não veio ninguém. Vendemos 15% do normal;, comentou.
Os irmãos Jofran Oliveira, 29, e Raiane Oliveira, 27, também vendem marmitas na S2. ;Umas 50 refeições em dia útil. Hoje vendemos 20, só para seguranças e jornalistas;, contou Jofran. ;Vamos doar o que sobrou na rodoviária e no Hospital de Base;, emendou Raiane.