A situação do PMDB fluminense se complicou, principalmente por causa da doença do governador Luiz Fernando Pezão, que vai se licenciar por 30 dias para tratar um câncer na medula. O diagnóstico foi confirmado ontem. Quem mais resiste ao desembarque é o prefeito do Rio, Eduardo Paes, por causa da realização das Olimpíadas, em agosto. O presidente da Assembleia Legislativa fluminense, Jorge Picciani, será o fiel da balança na decisão. Com dois votos, ele deve acompanhar Sérgio Cabral, mas está sendo pressionado pelo filho, o líder da bancada do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, que tem compromisso com Dilma. Seu irmão Rafael, deputado estadual, porém, seguirá a orientação do pai.
O ex-governador Moreira Franco; os prefeitos de Nova Iguaçu, Nélson Burnier, e de Macaé, Dr. Aluízio; o deputado estadual Paulo Melo e os deputados federais Washington Reis, Fernando Jordão e Marco Antônio Cabral (licenciado) são a favor do desembarque. Estão indecisos o ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (deputado licenciado), e o deputado federal licenciado Pedro Paulo, aliado de Eduardo Paes.
Retaliação
Ontem, Dilma mandou demitir o presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Henrique Pires, aliado do vice-presidente Michel Temer. A exoneração foi publicada no Diário Oficial e encarada como uma retaliação ao fato de a reunião do diretório não ter sido adiada, como havia solicitado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-presidente José Sarney e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ambos tentaram articular o adiamento, mas Temer foi inflexível, embora estivesse com viagem marcada para o exterior.
Temer não pretendia comparecer à reunião do diretório, mas cancelou a viagem a Portugal. Não vai mais participar de um evento promovido pelo Instituto de Direito do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, com a presença dos tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP). Os ministros do PMDB, que resistem a deixar os cargos, pediram para que Temer ficasse e acompanhasse as negociações da reunião para tentar um acordo entre as duas alas da legenda.
A corrente favorável ao impeachment de Dilma no PMDB hoje é majoritária na legenda. Governistas, a exemplo do ministro da Saúde, Marcelo Castro, porém, defendem a permanência da sigla no governo. Ainda tentam convencer Temer a adiar a reunião. A chance é remota. A saída será evitar uma resolução a favor do desembarque já. O movimento para evitar o rompimento é comandado por Renan. O mais provável é que Temer tente um acordo no decorrer da reunião, mas a decisão de afastar Pires do cargo pode ter dificultado a negociação.
No Palácio do Planalto, a avaliação é a de que o próprio Pires estava medindo forças com Castro e tentava forçá-lo a deixar o governo. A situação foi tema de conversas entre a presidente Dilma e o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. Assessores do vice-presidente afirmam que ele não foi informado anteriormente da decisão e só soube pelo Diário Oficial da União. Pires também não teria ficado a par da exoneração, embora tenha dito a interlocutores que já sabia. No DOU, não consta o termo ;a pedido; na publicação do termo de exoneração. Oficialmente, o Ministério da Saúde informou que havia na Funasa conflitos internos sobre a própria gestão do órgão. O Planalto e o Ministério teriam tentado solucionar o impasse, mas o governo optou por exonerá-lo.