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Politica

Lava-Jato vê suspeita de propina em estádio do Corinthians e metrô do Rio

Investigadores encontram pedidos de pagamento de suborno relacionados a gerentes de obras também executadas por governos estaduais e municipais

Investigadores da Operação Lava-Jato disseram, em entrevista coletiva em Curitiba nesta terça-feira (22/3), que encontraram indícios de que a empreiteira Odebrecht pagava propinas de forma organizada em uma série de obras no país, envolvendo os governos federal, estaduais e municipais. Entre essas obras, estão o estádio do Corinthians, criado para receber a Copa do Mundo de 2014, o metrô do Rio de Janeiro, o Canal do Sertão, o Porto Maravilha e empreendimentos da Petrobras.

Hoje, a PF cumpriu a 26; fase da Lava-Jato, apelidada de ;Xepa;, quando prendeu preventivamente um executivo da Odebrecht, não localizou outro, pois estava no exterior e ainda deteve mais dois doleiros. Foram cumpridos ainda mandados de prisão temporária, por cinco dias, de condução coercitiva e de busca e apreensão.

[SAIBAMAIS]De acordo com delegados e procuradores, foram encontradas planilhas e trocas de emails que demonstravam que 14 executivos da Odebrecht solicitavam pagamentos de propinas a seus superiores para beneficiário identificados por codinomes ; são de 25 a 30 beneficiários identificados até o momento. Os executivos eram responsáveis a obras específicas, enquanto os codinomes costumavam coincidir com agentes públicos ligados a esses empreendimentos. ;Eles receberam pela contabilidade paralela da Odebrecht, o que indica alguma ilicitude, das mais diversas esferas;, disse o delegado da Polícia Federal Márcio Adriano Anselmo.

Os executivos recebiam autorização de superiores hierárquicos. A seguir, seus pedidos eram encaminhados a uma ;central de pagamento de propina;, chamada de ;Setor de Operações Estruturadas;, que realizava o repasse do dinheiro em espécie. Para isso, eram contatados doleiros, que pagavam os beneficiário com dinheiro vivo. No exterior, a Odebrecht pagava os doleiros a partir de contas fora do país. A operação casada é chamada de dólar-cabo, e foi identificada pela primeira vez no caso Banestado, embrião da Lava-Jato.



A delegada Renata Pereira disse que a Odebrecht mantinha de seis a oito contas com doleiros, identificadas com nomes como ;Paulistinha; e ;Carioquinha;. Numa delas, o saldo da empreiteira para pagamento de subornos era de R$ 66 milhões. Tudo era controlado por um sistema de computador próprio da Odebrecht. Em outro sistema, eram feitas as comunicações entre funcionários da empresa e doleiros.

Partidos e governos
Segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, os crimes atingem todos os governos de todos os partidos. ;A Lava-Jato tem foco na Petrobras, mas estamos combatendo a corrupção, seja qual for o partido, seja o que for governo. Vamos colaborar com todas as investigações. Vamos encaminhar todas as provas para os Ministérios Públicos e polícias dos estados.; Ele destacou que a empreiteira não desejava controlar desvios e combater corrupção interna, mas favorecer esquemas ilícitos. ;Ficou claro que a Odebrecht, ao contrário de ter um setor de compliance, ela tinha um setor de hierarquia organizada para pagamento de propinas.;

A Odebrecht disse ao Correio que a PF cumpriu mandado de prisão, condução coercitiva e buscas em escritórios e em residências ;de integrantes; do grupo. ;A empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários.;