Jacqueline Saraiva, Eduardo Militão
postado em 04/03/2016 06:50
A Polícia Federal (PF) deflagrou a 24; fase da Operação Lava-Jato, apelidada de Aletheia, na qual cumpre mandado de condução coercitiva contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o investigado é levado a prestar depoimento de maneira forçada. O petista ainda é alvo de mandados de busca e apreensão em sua casa, em São Bernardo do Campo (SP) e no Instituto Lula, em São Paulo. Agentes também cumprem mandados na casa do filho de Lula, Fabio Luiz Lula da Silva. Um mandado de condução coercitiva também é cumprido contra o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto.
O Ministério Público Federal no Paraná informou que Lula foi "um dos principais beneficiários" do esquema de corrupção na Petrobras, "enriqueceu" e usou os desvios para financiar campanhas políticas de seus aliados. O Instituto Lula e os advogados do ex-presidente não retornaram os contatos do Correio Braziliense.
Os mandados foram expedidos pelo juíz da 13; Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro. Ele disse na decisão que, "embora o ex-presidente mereça todo o respeito, em virtude da dignidade do cargo que ocupou (sem prejuízo do respeito devido a qualquer pessoa), isso não significa que está imune à investigação, já que presentes justificativas para tanto". A operação foi baseada em pedidos feitos pelo Ministério Público em duas representações, uma de 20 de fevereiro, e outra de 22.
[SAIBAMAIS]Segundo a Procuradoria da República no Paraná, apuram-se "possíveis" crimes de corrupção e lavagem de dinheiro "por meio de pagamentos dissimulados feitos por José Carlos Bumlai e pelas construtoras OAS e Odebrecht ao ex-presidente da República" e pessoas ligadas a ele. "Há evidências de que o ex-presidente Lula recebeu valores oriundos do esquema Petrobras por meio da destinação e reforma de um apartamento tríplex e de um sítio em Atibaia, da entrega de móveis de luxo nos dois imóveis e da armazenagem de bens por transportadora. Também são apurados pagamentos ao ex-presidente, feitos por empresas investigadas na Lava-Jato, a título de supostas doações e palestras."
De acordo com a Lava-Jato, um megaesquema de corrupção atingiu a Petrobras por meio de um cartel de empreiteiras que combinava licitações entre si, adicionava de 1% a 3% no valor dos contratos e distribuía esse excedente de preço a funcionários da estatal e a políticos. Partidos e políticos recebiam o dinheiro, que "os enriquecia e financiava campanhas", de acordo com a PRPR. "Esse grande esquema era coordenado a partir das cúpulas e lideranças dos partidos políticos que compunham a base do governo federal, especialmente o Partido dos Trabalhadores, o Partido Progressista e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro. O ex-Presidente Lula, além de líder partidário, era o responsável final pela decisão de quem seriam os diretores da Petrobras e foi um dos principais beneficiários dos delitos."
Buscas em Atibaia
Há buscas também em Atibaia e Guarujá, cidades que possuem imóveis atribuídos ao ex-presidente. Em São Bernardo, são cinco mandados de busca e apreensão e dois de condução coercitiva. Em Atibaia, uma condução coercitiva e duas buscas. No Guarujá, um mandado de busca. São, ao todo, 200 policiais e 30 auditores da Receita Federal em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Eles cumprem 44 mandados judiciais, sendo 33 de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva. De acordo com a PF, "são investigados os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros, praticados por diversas pessoas no contexto de esquema criminoso revelado e relacionado à Petrobrás".
As ordens judiciais foram feitas pelo juiz da 13; Vara Federal de Curitiba, Sérgio Fernando Moro. O nome de "Aletheia" é uma expressão grega que significa "busca da verdade". Uma entrevista coletiva será concedida a partir das 10h, em Curitiba; acompanhe ao vivo:
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Veja a lista de mandados:
São Paulo: 18 mandados de busca e 6 conduções;
São Bernardo do Campo: 5 mandados de busca e 2 conduções;
Atibaia: 2 mandados de busca e 1 condução;
Guarujá: 1 mandado de busca;
Diadema: 1 mandado de busca e 1 condução;
Santo André: 1 mandado de busca;
Manduri: 1 mandado de busca;
Rio de Janeiro: 2 mandados de busca
Salvador: 2 mandados de busca e 1 condução.
Prisão de marqueteiro
A última fase da Lava-Jato, intitulada ;Acarajé;, ocorreu em 22 de fevereiro, quando a PF prendeu o marqueteiro das campanhas de Dilma e Lula, João Santana, além da mulher dele, Mônica Moura. O casal é suspeito de receber US$ 7,5 milhões em conta secreta no exterior. A PF suspeita que os recursos tenham origem no esquema de corrupção na Petrobras. O publicitário baiano comandou as campanhas da presidente Dilma Rousseff (PT) e a campanha da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006.
Delator-bomba
A operação de hoje da Lava-Jato ocorre um dia depois de a revista Istoé publicar reportagem em que fala que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) incrimina Dilma e Lula no petrolão. Relata que ela sabia de tudo sobre a compra de Pasadena, que deu prejuízo milionário à Petrobras. Afirma que a presidente nomeou um ministro do STJ com a missão de soltar presos da Lava-Jato. E acusa Lula de ser o mandante do pagamento de suborno à família de Cerveró. O acordo de delação premiada para que o parlamentar seja ouvido ainda precisa ser homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Atônito, o governo convocou reunião de emergência e tentou desqualificar as denúncias. Em nota, Delcídio não confirmou as acusações, mas também não negou ter feito a delação. A oposição quer usar o depoimento do parlamentar petista para reforçar o pedido de impeachment contra a presidente.