O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, declarou, ontem à tarde, durante evento no Rio de Janeiro, que a pasta está analisando tecnicamente as denúncias envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele afirmou que, se houver indícios de irregularidades, a Polícia Federal abrirá investigação. Mirian Dutra, ex-amante do tucano, disse em entrevista que FHC utilizou um contrato fictício da empresa Brasif, com validade entre 2002 e 2006, para pagar uma mesada para ela e o filho, Tomás Dutra Schmidt, no exterior.
;Isto não vale apenas para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas para todos os brasileiros e brasileiras. Aquilo que for de competência da PF e tiver indícios de prática criminosa, dentro de situações que são puníveis, tudo será absolutamente investigado. Então essa não é uma situação diferenciada, atípica, daquelas que ocorrem;, ressaltou o ministro.
A empresa Brasif, que teria sido utilizada por FHC para fazer remessas para Mirian no exterior, tinha contratos com a Infraero para explorar as chamadas lojas duty-free nos aeroportos. Em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, quando supostamente os repasses do ex-presidente começaram a ser feitos, a Brasif, do empresário Jonas Barcellos, tinha 17 contratos com a Infraero ; cinco deles assinados naquele ano.
Parte dos contratos de 2002 foram firmados sem a necessidade de licitação. Chamam a atenção os valores irrisórios que a Brasif repassava ao governo. Por um contrato direto no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, a Brasif pagava, na época, apenas R$ 550 por mês. Em Congonhas, São Paulo, a empresa arcava com R$ 1.437,86 mensalmente. Havia ainda outros três contratos em Guarulhos, São Paulo, para concessão de uso de área de publicidade. Nestes casos especificamente, os valores mensais pagos pela Brasif ao governo federal variavam entre R$ 2.550 e R$ 44 mil.
A Infraero informou que não existe mais contrato hoje com a Brasif. A empresa foi vendida em 2006. O grupo que comprou assumiu dois contratos. O primeiro em Porto Alegre, assinado em 1995 com vencimento em 2020, e outro no Recife, firmado em 1986 com validade até abril deste ano. O primeiro convênio entre a Infraero e a Brasif foi assinado em dezembro de 1984 para exploração comercial de uma loja no Aeroporto de Guarulhos.
PSDB e PT
O pecuarista Jonas Barcellos tem uma forte influência política em Brasília. É conhecido por congregar políticos de vários partidos e até adversários em eventos que costuma promover. Em 2013, por exemplo, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, reuniu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves em uma de suas fazendas. Três anos antes, Dilma e Serra, segundo a publicação, participaram de um evento promovido por ele em Uberaba, Minas Gerais.
Em nota, o ex-presidente afirmou que não tinha condições de se manifestar sobre o contrato da Brasif. ;Trata-se de um contrato feito há mais de 13 anos, sobre o qual não tenho condições de me manifestar enquanto a referida empresa não fizer os esclarecimentos necessários;. ;Todas as remessas internacionais que realizou obedeceram estritamente à lei, foram feitas a partir de contas bancárias declaradas e com recursos próprios resultantes de seu trabalho. Não tem fundamento, portanto, qualquer ilação de ilegalidade. O presidente lamenta o uso político de uma questão pessoal;, afirmou a assessoria do ex-presidente.
Na tarde de ontem, em comunicado, a Brasif afirmou que o tucano não teve nenhuma participação na contratação de Mirian Dutra. ;A Eurotrade LTDA., plataforma internacional das operações da Brasif Duty Free Shop LTDA., contratou, em dezembro de 2002, a jornalista Mirian Dutra para realizar pesquisas sobre os preços em lojas e free shops na Europa;, afirma.
A nota diz ainda que ;o jornalista Fernando Lemos, cunhado de Mirian, indicou-a para tal;. O comunicado registra que ;o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não teve qualquer participação nessa contratação, tampouco fez qualquer depósito na Eurotrade ou em outra empresa;.
Mirian acusa Fernando Henrique de ter pago dois abortos. Em entrevista a uma revista espanhola, a jornalista contesta teste de DNA aos quais FHC se submeteu. Na nota, o ex-presidente afirma ter feito dois exames que deram negativo para a paternidade, mas que continuou a tratar Tomás como filho. Ele também confirmou ter uma conta no Banco do Brasil nos EUA e outra no Novo Banco, em Madri, e afirma ter pago a matrícula e o sustento em uma ;prestigiada universidade americana;, ;Da mesma forma, doei mais recentemente um apartamento a ele em Barcelona, bem como alguns recursos para fazer os estudos de mestrado e, quando possível, atendo-o nas necessidades afetivas.
O PSDB silenciou sobre o caso. Nos bastidores, os integrantes do partido afirmam que FHC já esclareceu tudo e que questões de cunho pessoal não cabem comentários. Lula, por sua vez, orientou petistas a explorarem a questão do dinheiro, resguardando a vida privada de Fernando Henrique.