Três delatores da Operação Lava-Jato estão ameaçados de perderem o benefício do acordo de colaboração, como a redução de punições e suspensão de processos judiciais. Os doleiros Roberto Trombeta e Rodrigo Morales e o empresário Fernandou Hourneaux de Moura, ligado ao ex-ministro José Dirceu, foram alvos de pedidos do Ministério Público, na sexta-feira, para que seja investigado se eles descumpriram o trato fechado com a Procuradoria e homologado pela Justiça. Se o juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, julgar que houve violação, o trio perde os benefícios, mas as provas produzidas continuam válidas, segundo avaliação do Ministério Público.
Moura admitiu ter mentiudo perante o magistrado. Primeiro, disse em sua delação premiada que fugiu do Brasil após uma ;dica; de Dirceu para que esperasse a ;poeira baixar; em relação ao mensalão. Depois, disse a Moro que não era verdade o que afirmara. Menos de uma semana depois, afirmou que cometeu um ;erro feio; e que precisava de uma ;segunda chance; para colaborar. Moura disse que mudou as versões porque ficou com medo de um desconhecido de Vinhedo que lhe abordou na rua e que apenas perguntou por seus netos, o que foi interpretado como uma ameaça. Para o Ministério Público, não basta justificar a mentira. ;A abordagem, comum em cidades do interior, não pode ser interpretada como uma ameaça;, argumentam os procuradores.
Já Trombeta e Morales foram flagrados articulando a manutenção de offshores após o acordo de colaboração premiada. Eles informaram ser donos de uma única empresa, mas a 22a fase da Lava-Jato descobriu documentos na ;fábrica; de offshores Mossack Fonseca mostrando que eles possuíam outras sete firmas no exterior. A dupla também não entregou documentos referentes a pagamentos feitos por meio da offshore antes declarada, a Kingsfield, que fez negócios com a OAS.
Trombeta e Morales não pagaram a multa acertada no acordo, de US$ 7 milhões (R$ 26,57 ,milhões na data do vencimento do pagamento, em novembro de 2015). Do valor acordado, só foram pagos R$ 3 milhões, pouco mais de 10% do total. Cobrados em em janeiro, a dupla ainda pediu que os valores fossem convertidos a uma taxa de câmbio mais favorável.
A reportagem não localizou as defesas dos três delatores. Depois que Moura mentiu para Sérgio Moro, treze defensores dele abandonaram o caso, como Pedro Iokoi.
A Operação Lava-Jato tem mais de 40 colaboradores. Pelo acerto, previsto em lei, eles são obrigados a irem além de confessar seus crimes. Precisam entregar todas as informações e documentos que possuem sobre eles e o restante das organizações criminosas com que se envolveram. Não podem sequer fazer ;reservas mentais;, os chamados ;esquecimentos consentidos;. Em troca, têm a garantia de uma pena menor, geralmente em regime domiciliar e da suspensão de seus processos.