Jornal Correio Braziliense

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Procuradores e magistrados querem garantia de auxílio-moradia de R$ 4.377

Conselho dribla regras para LDO não ser aplicada a categoria no Supremo

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Apesar de impor critérios mais rígidos contra o pagamento generalizado do auxílio-moradia de R$ 4.377 por mês, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) não será aplicada a procuradores do Ministério Público e magistrados. Na última semana, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) interpretou que as regras não se aplicam à categoria. Juízes têm o mesmo entendimento. O chamado Conselhão ainda pediu que a Procuradoria-Geral da República (PGR) tente derrubar a lei na Justiça. A assessoria do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que ele não recebeu o pedido ainda, mas que estudará o caso.

Um dos argumentos do Conselhão é o de que a própria presidente Dilma Rousseff liberou, no último dia 19, o valor necessário ao pagamento da regalia a todos que o recebem. Especialistas em contas públicas criticam, além do benefício em si, a liberação do dinheiro pelo Executivo por meio de crédito extraordinário, que só poderia ser usado em caso de ;urgência ou catástrofe;. A decisão do CNMP permite que os procuradores recebam, ao contrário da LDO, diárias superiores a R$ 700.



Hoje, a diária da categoria gira na casa dos R$ 900. O auxílio-moradia ; que pode ser recebido por magistrados e procuradores mesmo que já tenham residência no local de trabalho ; custa aproximadamente R$ 450 milhões por ano aos cofres públicos e é apontado como um item para elevar os rendimentos artificialmente e, em alguns casos, criar supersalários além do limite legal de R$ 33,7 mil por mês. ;Esse pagamento indiscriminado acaba sendo uma forma de remuneração;, disse ao Correio a presidente da associação dos defensores públicos da União (Anadef), Michelle Leite. Na semana passada, os defensores abriram mão do benefício irrestrito para cumprir a LDO e livraram os cofres públicos de uma despesa anual de R$ 32 milhões.

Reunião

A decisão de continuar a fornecer a benesse tal como ela é foi dada na última semana, em resposta a um pedido de providências da Advocacia-Geral da União (AGU) no início do mês que solicitou ao CNMP, bem como ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que a LDO fosse cumprida. Mas, após reunião, os conselheiros aprovaram por unanimidade o voto do relator Valter Shuenquener de Araújo. Na intepretação dele ; que coincide com a defendida dias antes pelas duas categorias ;, a LDO não deveria ser cumprida porque ela não pode se sobrepor a duas outras leis complementares que determinam pagar o auxílio-moradia de forma ampla.

O CNMP aceitou somente o pedido da AGU para cumprir regra das de resolução da categoria que impede pagar o benefício quando o cônjuge já o recebe ou quando há aposentadoria ou afastamento. A AGU já acionou o Judiciário mais de uma vez por acreditar que há beneficiários que não se enquadram nos padrões. Os argumentos definidos pelo Conselhão foram organizados por líderes da Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público (Frentas) em uma reunião em Brasília.

Além da questão do auxílio, o CNMP entendeu que não deve respeitar o teto de R$ 700 como limite de diárias imposto na lei orçamentária. Na decisão, o CNMP alega não descumprir a LDO porque o artigo n; 17 da lei determina que deve ser feita ;a incidência dos critérios elencados ;até que lei específica disponha sobre valores e critérios de concessão, o pagamento de ajuda de custo para moradia ou auxílio moradia;;. E, no caso, já há leis complementares que não podem ser sobrepostas.

O argumento para não cumprir a LDO é reforçado com a tese de que o próprio Executivo interpreta que o pagamento do auxílio deve ser mantido. Isso porque o Palácio do Planalto editou medida provisória para liberar crédito extraordinário com o objetivo de efetuar o pagamento.

;Professores ganham mal, mas têm uma quantidade de férias tão grande ou maior que procuradores e juízes. Faz parte do pacote de cada uma das carreiras;
José Robalinho, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR)

Penduricalho "absurdo"

Especialistas são unânimes em classificar como imoral o pagamento de auxílio-moradia para carreiras vitalícias. ;É uma aberração. Primeiro que não se justifica a concessão a uma determinada categoria do setor público. O auxílio-moradia, por sua natureza, ou é de caráter geral ou não tem razão de ser. Não pode ser um benefício que se institua somente a uma categoria de servidores;, ataca o professor da Universidade de Brasília, o economista Roberto Piscitelli. Fundador da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco também é um crítico do benefício. ;As pessoas querem criar penduricalhos para ganhar mais. Mas esse penduricalho não é justo. Se essa pessoa vem concursada ou para exercer um cargo que exercerá para o resto da vida, não há razão para o benefício;, afirma.

Carlos Azevedo defende o pagamento. ;Pode-se discordar, estamos numa democracia, mas, como está previsto em lei, tem que ter outra para acabar;, contou. Presidente Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho, destaca que a lei permite o pagamento irrestrito, como acontece hoje. Além disso, faz parte das características da profissão. ;É uma forma de compensar, faz parte do pacote;, disse. ;Professores ganham mal, mas têm uma quantidade de férias tão grande ou maior que procuradores e juízes. Faz parte do pacote de cada uma das carreiras.; Se a lei for mudada, Robalinho garante que a categoria não se mobilizará.

Regras atropeladas
A LDO deste ano definiu restrições aos gastos com auxílio-moradia e diárias, mas leis complementares do Judiciário e do MP permitem mais liberalidade

Valor mensal do auxílio-moradia:
R$ 4.377

Teto da diária de servidores, políticos e autoridades, segundo a LDO:
R$ 700

Membros do Judiciário da União:
6.400*

Membros do MP da União:
2.206

Total: 8.606 servidores

Fonte: Lei de Diretrizes Orçamentárias