O Palácio do Planalto encarou com preocupação o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch. Na avaliação de auxiliares da presidente Dilma Rousseff, a ameaça de impeachment e o ambiente de turbulência política influenciaram a retirada de selo de bom pagador do País, ao lado do desemprego, da inflação e das dificuldades fiscais.
Para ministros do núcleo político do governo, porém, o maior problema é a trajetória dos juros nominais que atingiu meio trilhão de reais nos últimos 12 meses, valor que é o dobro do registrado um ano atrás.
Apesar da apreensão, o governo procurou amenizar os reflexos da decisão da agência Fitch. Em conversas reservadas, ministros disseram não esperar um movimento brusco de retirada de capital, pois quem tinha que fazer isso já tomou essa iniciativa após o primeiro rebaixamento da nota do Brasil. Houve ainda quem lembrasse que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, entrou no governo tendo como uma de suas principais missões justamente impedir o downgrade, mas vem sofrendo derrotas consecutivas dentro do governo.
O ministro chegou a dizer que, caso a meta fiscal fosse alterada, estaria "fora", mas depois, cobrado por Dilma, amenizou as declarações. Seus amigos argumentam, porém, que o titular da Fazenda não deve mesmo resistir muito tempo no cargo.
Na avaliação de fontes da área econômica, os papéis das empresas brasileiras serão bastante afetados pela perda do grau de investimento pela segunda agência de classificação de risco. Além do custo de captação ficar mais caro para as empresas, há uma pressão de venda dos papéis corporativos e da dívida soberana do País. Cálculos que circulam no mercado financeiro e que chegaram ao governo, preparado por bancos de investimentos, indicam que poderá haver uma saída de mais de US$ 10 bilhões entre títulos soberanos emitidos pelo governo brasileiro e corporativos.
A retirada do grau de investimento pelas agências Standard & Poor;s e pela Fitch obriga fundos institucionais e grandes investidores a vender os papéis do Brasil. Eles têm regras específicas de aplicação que exigem que o país detentor do investimento tenha o chamado selo de bom pagador de, no mínimo, duas agências. Além da venda passiva dos papéis determinada pelas regras de aplicação, é esperado também que os investidores se desfaçam dos ativos no Brasil por perda de confiança. Uma fonte da equipe econômica admitiu que os Investimentos Diretos no País (IDP) também correm risco de sofrer substancial queda nos próximos anos.